Negra, venha! Sinhá te chama!
Deixa teu piá aí na grama
E vá dizendo adeus à senzala.
E lá chegando, negra, vá com jeito
Passa na bica pra lavar seu peito
E lava os pés pra não sujar a sala.
Pela janela percebe, vai chover
Lembra-se do filho que ficou ao relento
Desesperada ouve o forte som do vento
E ela ali, sem nada por fazer.
O sinhozinho precisa do seu leite
Pouco importa seu piá morrer!?
Graças ao farto leite do seu peito
Já não terá mais que sofrer no leito
Fora escolhida por ser saudável e forte
E poderá a pobre reclamar? Não!
Restou-lhe obedecer.
Chora o caro preço que terá que pagar
O seu piá ser condenado à morte.
E, enquanto o filho da sinhá mamava
Entre lágrimas que a pobre derramava
Fora da casa a tormenta desabou
E entre lágrimas que do céu caia
Deu-me a impressão que do céu Deus dizia
Que junto a ela o céu também chorou.
Já não bastava seu velho pai ter expirado
Ao abrigo da ramada, abandonado
Por ser tão velho e não passar de um pobre ancião?
Mas, muitos juram ter visto algo estranho
Julgaram ser assombração.
Viram um velho caminhando pela estrada
E sorria no meio da enxurrada
Puxando uma criança pela mão.