Todos os dias, ao levantar, eu não esqueço
De orar, pedir, por causas que não mereço
De implorar, pedir, por compaixão
Que em minha mesa, Senhor, não falte pão.
Mas ao ver o mundo ruir à minha volta
O desassossego rondar à minha porta
Chego a achar, Senhor, que oro em vão.
Se saio à rua e ando pela cidade
Ao ver o quanto chegou a imoralidade
Que chega ao auge, a ponto da indecência
Ao ver vidas ceifadas pela violência
Ao ver o quanto agrava a corrupção
E quanto aumenta o indigente e o ladrão
Não estarei, Senhor, orando em vão?
Ao ver tanto menor abandonado
Quanto promete o candidato a deputado
No pouco tempo que antecede a eleição
Mas, se eleito, não esquece o que foi dito?
E por isso, Senhor, que eu repito
Não estarei, Senhor, orando em vão?
Ao ver como aumentou o desamor
E até se vê irmão matando irmão
O desespero aumenta minha descrença
Pois, não só se vê fome, dor e doença
E o desemprego efeito da recessão?
Por isso peço que não tome por ofensa
Quando julgo estar orando em vão.
E ao ver como aumenta enganadores
Que em altos berros promete salvação
Que promete cura, em troca de ouro
E faz das Escrituras o seu balcão
Só me resta crer, triste e desconsolado
Que, com certeza, não estou julgando errado
Quando julgo estar orando em vão.
Mas, pensando, parando, analisando
Não estaria, Senhor, exagerando
Teria motivo para agir como os ateus?
Se não me falta o que comer, o que vestir
Se não me falta um leito onde dormir
Se não me falta um teto a me cobrir
Não há motivo pra que viva reclamando
Pois tenho tudo para dar Glória a Deus!