1ª CANTORIA DE IMPROVISO EM 2004
REPENTISTAS: Moacir Laurentino e Sebastião da Silva
TEMAS DESENVOLVIDOS DE IMPROVISO
1.VIVO CANTANDO REPENTE
2.EU QUERIA
3.NORDESTE SÓ É NORDESTE DO SÃO FRANCISCO PRA CÁ
4.SINTO A ÚLTIMA ESPERANÇA SE QUEIMANDO NA FOGUEIRA DA SECA NORDESTINA
5.A MULHER QUE MAIS AMEI FOI EMBORA E ME DEIXOU
6.O SOFREDOR VERDADEIRO É O POBRE AGRICULTOR
7.TOADA BOA E BONITA PAISAGEANDO O SERTÃO
8.SÃO AS COISAS QUE GOSTO DE FAZER (ou faço sem gostar)
9.A VIDA BOA DO CAMPO
10.TODOS NÓS SOMOS PALHAÇOS NO PICADEIRO DA VIDA
11.A POEIRA DA ESTRADA APAGOU O NOME DELA
12.SE NÃO FOSSE VOCÊ EU NÃO TERIA APRENDIDO AS LIÇÕES DE AMOR DA VIDA
13.SEM A MINHA VIOLA EU NÃO SOU NADA,MAS SOU TUDO COM ELA NO MEU PEITO
14.O VELHINHO DO ROÇADO
15.UM MANDATO É POUCO PRA VARRER 5 SÉCULOS DE LIXO ACUMULADO
17.O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS
18.COQUEIRO DA BAHIA
São 18 TEMAS, constituindo um excelente acervo poético, que mesmo extenso vale a pena a gente ler, saboreando o trabalho desses ASTROS DO REPENTE, que cantam com RAPIDEZ, CRIATIVIDADE, COERÊNCIA e ALTA INSPIRAÇÃO, buscando palavras que se encaixam nas frases, formando VERSOS METRIFICADOS, RIMADOS E CANTANTES, de beleza singular. No avanço da cantoria, muitas vezes eles concluem um tema e continuam, rapidamente sem parar, vários outros, de uma forma harmoniosa e extraordinária.
VIVO CANTANDO REPENTE
Moacir Laurentino (ML) e Sebastião da Silva (SS)
ML
Eu gosto tanto do xote
e da POESIA DIVINA,
quando eu começo a cantar
sinto que a voz se afina,
penso que nunca adoeço
e que a vida nunca termina.
SS
Cantar é minha doutrina,
foi a opção que fiz,
pra defender a cultura,
e para cantar meu País,
cantar pra viver alegre,
sonhar pra viver feliz.
ML
Alcancei o que mais quis
e arranjei conhecimento,
afinando as 7 cordas
tocando o meu instrumento,
eu sinto a marca divina
ligada em meu pensamento.
SS
Já passei por sofrimento,
por tristeza e ameaça,
pelas queixas e as dores
e herança da nossa raça;
porém cantando repente,
todo sofrimento passa.
ML
Comecei cantar pra raça,
numa fase adolescente,
vai fazer 40 anos,
que eu vivo só do repente,
ainda quero cantar mais
uns 10 ou 15 pra frente.
SS
Venho desde inocente
nesse grande labirinto,
passei por muitas torturas,
passei momentos faminto,
porém cantando no pinho,
esqueço as dores que sinto.
ML
Vivo do jeito de Pinto,
de improviso e boemia,
criei até 4 filhos
à custa de POESIA,
terminei de criar todos
e hoje DEUS é quem me cria.
SS
Sigo nesta rodovia,
de subida e de descida,
trilhando neste caminho,
de viagem indefinida
e fazendo dos meus repentes
o pão gostoso da vida.
ML
Minha alma adormecida
desperta o sol, extrapola,
o grito salta do goela,
ouvindo o som da viola
e pra filho de gente pobre
nunca vi melhor escola.
SS
Vivo do som da viola,
do repente à cantoria,
eu acho que DEUS me deu
a arte que eu merecia,
fez muito bem me dar isto,
que outra coisa eu não queria.
ML
Pedi a Virgem Maria,
que me desse solidez,
busquei no dicionário
a certeza, o português,
é DEUS passando pra mim
e eu passando pra vocês.
SS
O divino Rei dos Reis
me fez poeta disposto,
para cantar minha queixa,
minha dor e meu desgosto,
e é só cantando repente
que a vida tem melhor gosto.
ML
A arte eu faço com gosto,
porque da ARTE preciso,
utilizo a engrenagem
da mecânica do juízo,
e minha boca é ambulante
distribuindo improviso.
SS
Vivo do meu improviso,
vou viver até o fim,
foi assim que eu nasci,
quero sempre ser assim,
acordando o repentista
que dorme dentro de mim.
ML
Eu não sei quando é meu fim,
só tem JESUS que indica,
enquanto eu souber cantar,
minha idéia multiplica
quando eu partir qualquer hora,
minha POESIA fica.
SS
Quero minha idéia rica,
como tive no troféu,
como esse solo que piso,
com a roupa e o chapéu,
e dos versos faço uma escada,
pra ir direto pra o céu.
ML
Já ganhei mais de um troféu,
do jeito de Zé Sobrinho,
de Pinto e de Lourival,
Otacílio e Canhotinho,
que eu quero é viver cantando
do jeito de passarinho.
SS
Eu venho desde novinho,
nessa minha profissão,
depois que eu envelhecer,
que eu me tornar ancião,
ao invés de uma bengala,
quero a viola na mão.
SS
Quando a vida tiver ruim,
cheia de trôpego, desgraça,
me arranje uma viola,
meio litro de cachaça,
e uma banda de limão,
que eu bebo e a raiva passa.
ML
Para mim não tem seqüela,
queixa, nem dor de saudade,
vou aqui rompendo o mundo,
do jeito da tempestade,
nem me curvo nem ao peso
da carga da minha idade.
ML
Viver cantando o sertão,
e belezas que ele tem,
o canto da sabiá
e algum ninho do vem-vem,
viver com simplicidade,
sem ter raiva de ninguém.
SS
Até hoje eu vivo bem,
pelo dom que eu ganhei,
pelas cantigas que fiz,
os caminhos que trilhei,
os versos improvisados,
e amigos que arranjei.
ML
Os troféus que eu ganhei,
por que tenho preferência,
as expressões que já disse,
à luz da inteligência,
posso partir qualquer hora
e deixo em minha residência.
SS
Agradeço à Providência,
por cada troféu e taça,
por ser artista do povo,
por ser boêmio na praça,
obrigado DEUS e povo,
que me ouve e me abraça.
ML
Sou da cana, sou da taça,
sou do boteco e do bar,
sou da igreja e da praia,
do salão do lupanar,
que eu sou de qualquer recanto,
que a platéia desejar.
SS
Eu vou pra qualquer lugar,
cantar para fazer show,
distribuir alegria,
sem ter alegria, eu dou,
sou como o nome de DEUS,
em todo canto eu estou.
ML
Meu repente adocicou,
como garapa de engenho,
o meu verso leva doce,
no mais alto desempenho,
nunca dei o que comprei,
PORÉM DOU DO DOM QUE EU TENHO.
SS
Cinquenta e nove já tenho,
de anos ou de idade,
44 de arte,
com muita simplicidade,
a vida cheia de paz,
e a alma, de liberdade.
ML
Viver com intensidade,
nessa minha trajetória,
não ter a alma pesada,
sacrifício e palmatória,
e quando eu canto deixo um livro,
para contar minha história.
SS
Sigo a minha trajetória,
trilhando equilibrado,
carrego há 44
anos, um fardo pesado,
mas nem reclamo do peso,
e nem digo que estou cansado.
SS
Na ARTE sou orgulhoso,
graça ao Pai Jeová,
carregando a profissão,
cantando igual sabiá,
infeliz quem não agüenta
a marca que DEUS lhe dá.
SS
Já trabalhei no sertão,
fiz o maior rebuliço,
já cultivei, já colhi,
já tirei mel de cortiço,
e por ser um sertanejo,
gosto sim de fazer isso.
ML
No campo, não fiz chouriço,
que essa luta eu não entendo,
no trabalho eu já rendi,
no repente ainda rendo,
pois DEUS me deu esse dom,
e eu vivo lhe agradecendo.
SS
Por isso eu estou querendo,
saudar a quem está presente,
e agradecer ao povo,
que veio ao nosso ambiente,
assistir à cantoria,
e bater palmas para a gente.
ML
Essa platéia decente,
conhece a minha odisséia,
o som da minha viola,
que eu conheço essa platéia,
o rapaz calibra o som
e eu calibro a minha idéia.
SS
Muito obrigado à platéia,
que veio pra cantoria,
e agradeço muito mais
a cada um que aprecia,
porque se não fosse povo,
nada o poeta seria.
SS
ZÉ DANTAS é nosso irmão,
grande nome cultural,
uma criatura boa,
que está neste local,
e ainda carrega o cheiro
da MARINGÁ DE POMBAL.
ML
Outro amigo especial,
que se sentado não sai,
é o nosso João FEITOSA,
que é talentoso e não cai,
aprecia a poesia,
do mesmo jeito do pai.
ML
Outro grande amigo meu,
que eu visito todo ano,
esse já morou no Rio,
é o nosso CIPRIANO,
eu moro em cima da serra,
e ele perto do oceano.
ML
TIAGO aqui está presente
hoje aqui na nossa sede,
é primo de FENELON,
e é da seca SÃO MAMEDE,
onde o povo pede chuva,
e DEUS não atende a quem pede.
EU QUERIA
ML
A meu filho dá estudo,
e o curso superior,
para avistar mais na frente
o meu menino doutor
dizendo: não me envergonho
do meu pai ser cantador.
SS
Seja ou não seja doutor,
quero criar meus guris,
com moral e com capricho,
honrando o nosso País,
que às vezes anel de doutor
não faz ninguém ser feliz.
ML
Ir à missa na matriz,
morar num canto escondido,
ir caçar à tardezinha,
com espingarda de ouvido,
e um cacete de jucá,
pra dar carreira em bandido.
SS
Queria ser prevenido,
pra manhã do meu roçado,
com inverno todo ano,
com muita ração pra o gado,
e um cavalo bom de boi
pra nele eu andar montado.
NORDESTE SÓ É NORDESTE DO SÃO FRANCISCO PRA CÁ
SS
Acho linda as melodias
de Sivuca, o sanfoneiro,
do sertão ao chão brejeiro,
as produções e poesias,
do fole de Abdias,
filho de Taperoá,
Genaldo, do Ceará,
caboco, cabra da peste.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
ML
Irrigaram Petrolina,
embora com pouca chuva,
hoje em dia a sua uva
tem mais que na Argentina,
os frutos têm vitamina,
da uva a maracujá,
de Pau D’Arco a Camará,
do Mororó do Agreste.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
SS
Manuel Xudu, violeiro,
filho dessa região,
dos poemas de Cancão,
das estrofes de Granjeiro,
também Pinto de Monteiro,
de Silvino Pirauá,
Odilon Nunes de Sá,
poeta pra todo teste.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
ML
Nordeste que não enrica,
não é terra valorosa,
que só tem planta verdosa,
juazeiro e oiticica,
o sul da gente critica,
Rio Grande e Paraná,
mas do jeito que ele está,
é sujeito à fome e peste.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
SS
O petróleo sergipano,
carne de sol em Caicó,
nosso sal de Mossoró,
e o sisal paraibano,
a pesca do oceano,
turismo que aí está,
e no norte do Quixadá,
sertanejo ainda investe.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
ML
É o cariri pelado,
é o cinzento sertão,
na quentura do verão,
deixa o mato sapecado,
não tem um rio de nado;
do jeito que a coisa está,
talvez muita gente vá,
daqui para o sudoeste.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
SS
Se houvesse irrigação
e uma boa açudagem,
não teria desvantagem
nos períodos do verão,
teria muito algodão,
que a produção ainda há,
mas do jeito que está,
na seca ninguém investe.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
ML
Em São Paulo tem riqueza,
em Brasília tem distrito,
o nordeste é esquisito,
não tem água pra represa,
Paraná e redondeza,
conheço o café de lá,
tem café do Paraná,
gosto do café que preste.
Nordeste só é nordeste
do São Francisco pra cá.
SINTO A ÚLTIMA ESPERANÇA SE QUEIMANDO
NA FOGUEIRA DA SECA NORDESTINA
SS
Outro mote bonito aqui está,
vem falando de crise e sequidão
e nessa seca que há no meu sertão,
Piauí, Pernambuco, Ceará,
não se ouve o cantar do sabiá,
do canário de crista da campina,
e a cigarra também não faz buzina,
não tem ave do campo mais cantando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
ML
Essa dura e cruel situação,
da maneira que muita gente está
Paraíba, Sergipe e Ceará,
Rio Grande, Alagoas, Maranhão,
tá despida toda vegetação,
não tem mais folha verde na campina,
essa seca cruel e assassina,
com sol quente que vêm lhe sapecando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
SS
Na fogueira tremenda do verão,
no sertão está tudo esturricado,
está magra a criação de gado,
está morta a nossa plantação,
acabou-se a nossa produção,
que a seca pra nós é assassina,
eu espero uma luz da mão divina,
que só DEUS é quem pode estar ajudando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
ML
No sertão é um grande desafio,
não tem pássaro mais cantando na mata,
não tem água descendo na cascata,
está seco do jeito de um pavio,
falta água em represa lá do rio,
não tem água de fonte cristalina,
o problema da seca contamina,
e o fantasma da fome rodeando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
SS
Paraíba que é tão rica e boa
tá passando a maior dificuldade,
está seco em Mari e Soledade,
Cajazeiras, Pombal e João Pessoa,
não caiu mais no chão uma garoa,
nem em Patos, Teixeira nem Campina,
só no vale da linda Petrolina
é que a água ainda está passando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
ML
O sertão vive hoje nu e cru,
sertanejo não tem mais vez nem voz,
está seco demais o nosso Orós,
onde passa tristonho o boi zebu,
vi a seca perversa em Iguatu,
Avelós, Castanhal, Araripina,
até mesmo o espaço de Campina
não tem nuvem pesada desfiando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
SS
Nosso povo padece, sofre tanto,
e pra que venha uma chuva pra o sertão,
muita gente inda faz uma oração,
inda reza uma prece no recanto,
inda faz a promessa e rouba santo,
para ver se essa seca se termina,
mas a seca é cruel e assassina,
cada dia, ela vai contagiando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
ML
No sertão só tem nuvem de poeira,
“redemonho” por toda tardezinha,
não tem porco, guiné e nem galinha,
pelo mato só tem muita caveira,
vejo o povo matuto lá na feira,
em cidade maior ou pequenina,
um matuto se escora na esquina,
com o outro tristonho lastimando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
SS
É devido essa seca tão ruim,
fica o povo enfrentando sofrimento,
falta pasto pra o bode e pra o jumento,
nosso gado não come mais capim,
todo verde que tinha levou fim,
o saguim já não come mais resina,
tem somente uma ave de rapina
e a fome no campo se alastrando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
A MULHER QUE MAIS AMEI FOI EMBORA E ME DEIXOU
ML
Surgiu um tema engraçado,
por sinal eu já conheço,
de onde vem o endereço,
eu também tou informado,
vem dali do deputado,
que é boêmio como eu sou,
pelos testes, já passou
e já andou por onde andei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
SS
Wergniaud falou pra mim,
está na situação,
que é de cortar coração,
tá seco seu camarim,
o seu amor levou fim,
sua mulher viajou,
nenhum bilhete deixou
pra onde foi, eu não sei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
ML
Depois que ela foi embora,
findou a tranquilidade
se foi a felicidade,
por esse Brasil afora,
o que é que faço agora
ninguém não me consolou,
para completar levou
a criança que gerei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
SS
Juro que não compreendo,
porque ela foi embora,
e porque é que ela agora
noutro canto está vivendo,
me disse que estou devendo,
não sei se devendo estou,
porém ela me obrigou
pagar o que não comprei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
ML
É uma grande paixão,
dentro desse mundo estranho,
não há quem saiba o tamanho
de toda minha emoção,
o meu pobre coração
encheu, mas se esvaziou,
se ela nunca chorou,
mas por ela eu já chorei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
SS
Ela me jurou ser minha,
mas me enrolou no que disse,
praticou essa tolice,
levou tudo o que eu tinha,
quis fazer-se de rainha,
mas ela me abandonou,
a desgraçada enjeitou
minha coroa de rei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
ML
Ela me deixou sem nada,
e eu tristonho fiquei,
pra onde foi eu não sei,
essa triste excomungada,
saiu de casa zangada
e não sei por que se zangou,
minhas calças ela rasgou
e o seu vestido rasguei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
SS
Para mim não interessa
mais essa nossa amizade
pra minha felicidade,
já foi embora depressa,
não ouviu minha promessa,
levou tudo que jurou,
em mim não acreditou
ou pensa que virei gay.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
ML
Ontem quase o meio dia,
encontrei no nosso quarto,
de tristeza eu ia farto,
vou lhe contar como eu ia,
olhei a cama vazia,
meu coração soluçou,
minha alma se irritou,
que até a cama eu queimei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
SS
Como eu estou triste agora,
vivendo abandonado,
existe um velho ditado,
homem que é homem não chora,
mas estou chorando agora,
pelo desgosto que estou,
o meu pai nunca chorou,
mas por ela eu já chorei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
ML
Hoje somos separados,
mas estou vivendo bem,
eu não vou, ela não vem,
estamos noutros estados,
nós dois somos revoltados,
eu sei que ela se zangou,
outro macho ela arranjou
outra nega eu arranjei.
A mulher que mais amei
foi embora e me deixou.
O SOFREDOR VERDADEIRO É O POBRE AGRICULTOR
SS
Sei que NUNES tem razão,
me falou nesse momento,
quem viveu de sofrimento,
quem passa por precisão,
é o homem do sertão,
é aquele lutador,
o homem trabalhador,
que padece o tempo inteiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
ML
Caboco sem proteção,
que tem a mão calejada,
a camisa remendada,
dez calos em cada mão,
que vive lá no sertão,
morando no interior,
e o seu patrão opressor
nega auxílio e dinheiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
SS
É aquele camarada
que vem cuidando da rês,
que trabalha seis às seis,
puxando o cabo da enxada,
corta terra encaliçada,
sem arado e sem trator,
enfrenta o maior calor,
de setembro a fevereiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
ML
O homem de mesa vazia,
vivendo um tanto cansado,
empregado do roçado
e do sol do meio dia,
a mulher na companhia,
é seu verdadeiro amor,
onde o sol abrasador
lhe queima com exagero.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
SS
É aquele cidadão
que tem calça remendada,
e a pele bronzeada
da quentura do verão,
com a enxada na mão,
é um pobre sofredor,
um eterno sonhador,
pensando no tempo inteiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
ML
Um barraco é o seu lar
mora perto da cancela,
o que tem é uma sela
e um cavalo pra andar,
a terra pra trabalhar,
entre o frio e o calor,
um cachorro caçador,
e um velho jegue cargueiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
SS
Sempre sofrido e cansado,
com uma enxada na mão,
sem apoio do patrão
e por ninguém é ajudado
a riqueza é o roçado,
sua esposa, o seu amor,
seu filho trabalhador,
e um cachorro perdigueiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
ML
Devido a tanto cansaço,
nem conversa, nem assunta,
mas tem rico que pergunta,
quem é aquele palhaço ?
Tem um arranhão no braço,
não conhece senador,
e de banquete de doutor
nunca sentiu nem o cheiro
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
SS
Sabe a vida o que é,
na terra seca ele planta,
reza pra JESUS e canta,
e implora a São José,
vai para a feira de pé;
e a pé vem pra seu setor,
pedindo a Nosso Senhor
que chova logo em janeiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
ML
É quem tange a vacaria,
que pertence a seu patrão,
na roça tira ração,
pra botar com alegria,
só descansa o meio dia,
porque é trabalhador,
e diminui seu calor
na sombra do juazeiro.
O sofredor verdadeiro
é o pobre agricultor.
SS
Só que eu já fui roceiro,
que meu pai foi camponês,
também trabalhei na roça,
já lutei de seis às seis,
e tenho o calo na mão
que o cabo da enxada fez.
ML
Hoje eu não sou camponês,
só quem me ajuda é JESUS,
compro arroz para o feijão,
e o xerém para o cuscuz,
e tenho mais medo da roça
do que satanás da cruz.
TOADA BOA E BONITA PAISAGEANDO O SERTÃO
SS
Porém doutor João Feitosa
nos mandou essa mensagem,
pra se cantar a paisagem
da terra maravilhosa,
sertão, terra dadivosa,
nosso pedaço de chão,
acredite em doutor João,
que no sertão acredita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
Onde canta o sabiá,
torrão que botei meu pé,
o sertão bonito é
pois só de Patos pra lá,
mas eu andando pra cá,
perco até a direção
que eu não troco Conceição
em Bayeux e Santa Rita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SS
Ali canta o rouxinol,
e o bem-te-vi gorjeia,
quando nasce a lua cheia,
é mais lindo o arrebol
na hora que surge o sol,
trazendo aquele clarão,
dá até a impressão
que o céu com chão se limita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
É o sertão brasileiro,
que o homem nos dias seus
tem bastante fé em DEUS,
é lutador, é roceiro,
vai sempre pra o Juazeiro,
em cima dum caminhão
e ao Padre Cícero Romão
sempre vai fazer visita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
Sertão de vaca leiteira,
garrote e touro valente,
aonde o sol é mais quente,
é cinzenta a catingueira,
a jurema, a aroeira,
é seca a vegetação,
é um lugar que o cancão
dá pinote, voa e grita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SS
É a terra brasileira,
dos bravos aboiadores,
dos maiores cantadores
da minha vida primeira,
Inácio da Catingueira,
com um pandeiro na mão,
prescreveu o seu patrão
a liberdade bendita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SS
Sertão que foi minha escola,
da alegria completa,
que eu ouvia o poeta
cantar ao som da viola,
a ave que rouxinola,
cantando aquela canção,
doendo em meu coração,
quando o poeta recita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
É o sertão nordestino
que me traz recordação
tem marcas de Llampião,
o famoso Virgolino,
rastro de Antônio Silvino,
pegado no mosquetão,
diante a população
na casa velha esquisita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SS
Açude, curral de gado,
lá na nossa terra tem,
é sertão que eu quero bem,
por isso é sempre lembrado,
é sertão que foi cantado
por Luiz Rei do baião,
o nome de Gonzagão,
outro gênio não imita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
É a área nordestina,
onde o homem se agiganta,
onde o repentista canta,
onde a viola domina,
onde há festa junina,
por todo nosso sertão,
onde explode o foguetão
como na Arábia Saudita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SS
É a terra ensangüentada,
tem história que faz dó,
onde Raimundo Jacó,
em certa época passada,
morreu em uma emboscada
ou por uma traição,
mas sua celebração
da sua missa é bendita
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
É o sopé da montanha,
o lugar que fui criado
num barraco abandonado,
e hoje a saudade me arranha,
se eu partir pra terra estranha,
vou sofrer recordação,
se eu calar meu vozeirão
a alma por dentro grita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SS
O sertão que desde moço,
eu residi e morei,
foi lá que me alimentei,
lá comi que fiquei grosso,
com fartura no almoço,
em qualquer uma refeição,
ainda mata um capão,
um carneiro, uma cabrita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
ML
É a terra do sufoco,
um pedaço do nordeste,
aonde o caboco investe,
mas gastando muito pouco,
o roceiro arranca toco,
sem ter roupa de barão,
pra mulher ir pra o São João
veste um vestido de chita.
Toada boa e bonita
paisageando o sertão.
SÃO AS COISAS QUE EU GOSTO DE FAZER (ou que eu faço sem gostar)
SS
Cantar bem pra quem gosta de me ouvir,
escutar a toada da viola,
ir levar meu menino pra escola
e num parque meu filho divertir,
balançar numa rede pra dormir,
pedir água friinha pra beber,
boa carne e churrasco pra comer,
palestrar com mamãe e achar graça
ou chupar caju, doce com cachaça.
São as coisas que eu gosto de fazer.
ML
Inventar desafio com pedante,
cantar ruim quando estou desinspirado,
trabalhar meio dia no roçado,
quando o sol está quente e escaldante,
discutir com quem é ignorante,
ir de noite farrar, me embriagar,
inventar briga besta em qualquer bar,
conversar com sujeito vantajoso,
dá meu voto a político mentiroso.
São as coisas que eu faço sem gostar.
SS
Assistir uma missa domingueira,
ou passar o Natal com o meu povo,
bebo sempre wisky em Ano Novo,
levar minhas crianças a brincadeira,
todo sábado cedinho ir à feira,
pra comprar coisa boa pra comer,
desfrutar meus momentos de lazer,
escutar as cantigas da jandaia,
no domingo levar meu bem pra praia.
São as coisas que eu gosto de fazer.
ML
Fazer dupla cantando lá na praça,
me medir com talento de coquista,
ir cantar com um falso repentista,
me envolver com lorota de cachaça,
falar mal com quem é de falsa raça,
isso aí eu não quero praticar,
pra distante inventar de viajar,
um mau cheiro por dentro se exalando,
na cadeira um viado me cantando.
São as coisas que eu faço sem gostar.
SS
Dormir até 7 horas da manhã,
num domingo tranqüilo descansado,
sentir a minha deusa do meu lado,
me chamando meu bem e de meu fã,
escutar passarinho lá na chã,
decantando e me dando esse prazer,
numa rede branquinha adormecer,
pegar peixe nas águas da lagoa,
dirigir carro novo em pista boa.
São as coisas que eu gosto de fazer.
SS
Cantar bem e ganhar muito dinheiro,
numa rádio botar o meu programa,
trabalhar e lutar pra ganhar fama,
conhecido do povo brasileiro,
viver junto a meu povo o tempo inteiro,
desfrutar uma área de lazer,
ter cerveja gelada pra beber,
e namorar com uma nega carinhosa,
declamar os poemas de Pedrosa.
São as coisas que eu gosto de fazer
A VIDA BOA DO CAMPO
ML
No inverno estou feliz,
trabalhando o meu dia,
olhando o saguim na mata,
que saltita, canta e pia,
e o passa-sebo furando
a casca da melancia.
SS
No calor do meio dia,
escutar uma peitica,
deitado em colchão de folha
debaixo da oiticica,
quanto mais o sol esquenta
mais bonito o sertão fica.
ML
A água desce na bica
quando chove em fevereiro,
no terreiro o peru roda,
fuça um porco no aceiro,
e a água desce do corgo
com basculho pra o barreiro.
TODOS NÓS SOMOS PALHAÇOS NO PICADEIRO DA VIDA
SS
Mas o nosso amigo Armando
está pedindo esse tema,
fala da vida o dilema,
que todos vamos passando,
todos brincando e cantando,
entre a farra e a bebida,
entre subida e descida,
entre flores e bagaços.
Todos nós somos palhaços
no picadeiro da vida.
SS
Às vezes o cidadão
nada tem no seu império,
é trabalhador, é sério,
mas sofre decepção,
vai pra perto do balcão
enche a cara de bebida,
lembrando a mulher fingida,
que um dia foi nos seus braços.
Todos nós somos palhaços
no picadeiro da vida.
A POEIRA DA ESTRADA APAGOU O NOME DELA
SS
Eu passeei com meu bem
pelo cantinho da sorte,
já cruzei de Sul a Norte,
de Leste a Oeste também
e o destino ingrato vem
nos deixa dores, seqüela,
e hoje da minha bela
tenho lembrança e mais nada.
A poeira da estrada
apagou o nome dela.
SS
Naquela nossa casinha,
que tinha na encruzilhada,
bem na beira da estrada,
a casa era dela e minha,
lá o nome dela tinha,
desenhado na janela,
mas hoje não estou com ela
e a casa já está fechada.
A poeira da estrada
apagou o nome dela.
ML
O antigo casarão
do meu amor verdadeiro,
que eu abracei no terreiro,
lhe dei aperto de mão,
hoje só tem solidão,
a tristeza e a seqüela,
está velhinha a cancela,
pendida e escancarada.
A poeira da estrada
apagou o nome dela.
SS
Naquele belo recanto,
que foi nossa moradia,
onde havia CANTORIA,
muita festa em todo canto,
houve novena de santo,
no altar e na capela,
só tem o santo e a vela,
onde a missa era rezada.
A poeira da estrada
apagou o nome dela.
ML
A mulher que me amou,
que me queimou como brasa,
eu fui visitar a casa
e tudo se divisou,
a saudade ela deixou,
a sua sai amarela,
o resto de uma chinela
e uma blusa remendada.
A poeira da estrada
apagou o nome dela.
SE NÃO FOSSE VOCÊ EU NÃO TERIA
APRENDIDO AS LIÇÕES DE AMOR DA VIDA
SS
Se não fosse você na existência,
não seria o que sou nesse momento,
não teria o menor conhecimento
do trabalho, da vida e da seqüência,
não teria também a doce essência
de uma vida tão boa e divertida,
se não fosse você minha querida
a alegria da vida eu não sentia.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
ML
Se não fosse você na minha estrada,
eu teria cansado pelo meio,
e devido ao fracasso e aperreio,
eu achei minha vida fracassada,
você veio de mão tão levantada,
com a imagem divina e esculpida,
hoje tenho a lição bem aprendida,
que me serve de riso e alegria.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
SS
Se não fosse você meu bem amado,
eu não tinha alegria de viver,
eu não tinha sequer razão de ser,
você veio por DEUS abençoado,
eu não era um homem apaixonado,
eu não tinha uma vida bem vivida,
não teria um pouco de bebida,
nem a musa pra minha companhia.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
ML
Se não fosse você minha paixão,
eu estaria aqui insatisfeito,
não teria o amor dentro do peito,
e um calor de uma mão na outra mão,
um pouquinho na vida de emoção,
a lição que por mim foi recebida,
essa imagem bonita e colorida,
que hoje em dia me serve de POESIA.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
SS
Se não fosse você meu bem-querer,
o meu filho não teria nascido,
eu também não seria seu marido,
e não teria alegria de viver,
não teria você pra proteger
minha vida por DEUS oferecida,
já estava passada e esquecida,
mas você me atendeu como eu queria.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
ML
Se não fosse você mulher amada
minha deusa perfeita e tutelar,
companheira invencível do meu lar,
eu teria perdido minha estrada,
hoje eu tenho também minha morada,
minha mesa sortida e prevenida,
que não falta água fria e nem comida,
feijão, fava, arroz, milho e melancia.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
SS
Se não fosse você querida dama,
eu vivia sem riso e sem carinho,
nesse mundo eu estaria sozinho,
sem sentir do amor aquela chama,
eu não tinha você na minha cama,
como DEUS da imagem esculpida,
pra fazer minha vida aquecida
no momento que a minha parte esfria.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
ML
Se não fosse você sagrada dama,
não teria nem casa, nem parede,
nenhum pote pra matar minha sede,
nem lençol engomado em minha cama,
não teria a mulher que hoje me ama,
e a lição não seria transmitida,
a viagem pra mim era perdida,
envolvido na triste travessia.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
SS
Foi você que me deu o doce ego,
que me deu alegria de viver
e que me fez muito bem compreender
e entender esse fardo que carrego,
se não fosse você seria cego,
nessa rota bastante dividida,
nesse curso de ida e de descida,
como cego chorando atrás de um guia.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
ML
Me perdi na metade do caminho,
encontrei essa deusa em minha frente,
hoje em dia o meu mundo é diferente,
no meu lar canta alegre o passarinho,
tenho sempre o amor e o carinho,
a mulher verdadeira e prevenida,
eu não canto a saudade, despedida,
o que eu canto é o riso, a alegria.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
SS
Sem você que já foi contribuinte,
não teria viola no meu peito,
não teria o repente agora feito,
não cantava também no século vinte,
sem você eu seria algum pedinte,
sem ter lar, sem família e sem guarida,
talvez fosse esmoler na avenida,
sem ninguém botar nada na bacia.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
ML
Se não fosse você me dar lição,
inda hoje pelejo até aprendo,
na lição do amor ainda rendo,
porque sinto paixão e emoção,
estaria caído pelo chão,
atraído do vício da bebida,
como folha que já fica perdida,
sob os braços da louca ventania.
Se não fosse você eu não teria
aprendido as lições de amor da vida.
SEM A MINHA VIOLA EU NÃO SOU NADA,
MAS SOU TUDO COM ELA NO MEU PEITO
SS
Essa minha viola é companheira,
que dá tudo o que quero em minha vida,
é a deusa total e tão sentida,
que me serve de amiga a vida inteira,
essa minha viola é padroeira,
é a deusa que dorme no meu leito,
é a força que causa grande efeito,
é a deusa divina idolatrada.
Sem a minha viola eu não sou nada,
mas sou tudo com ela no meu peito.
ML
Eu sem esse pedaço de madeira,
já não tinha alegria em minha vida,
minha face seria entristecida,
porque falta a legítima companheira,
ela toca comigo a noite inteira,
eu com ela decanto satisfeito,
da maneira dum caboco do eito,
arrastando no cabo da enxada.
Sem a minha viola eu não sou nada,
mas sou tudo com ela no meu peito.
SS
Com a minha viola em minha mão,
penso, toco, divirto, bebo e canto,
vou com ela feliz pra todo canto,
pra exercer muito bem a profissão,
é com ela que eu tenho inspiração,
o meu verso no ato sai direito,
no repente que faço eu aproveito
caminhando feliz na minha estrada.
Sem a minha viola eu não sou nada,
mas sou tudo com ela no meu peito.
ML
Essa minha viola é ganha pão,
misturada com minha cantoria,
sacrifício, talento e melodia,
e um pouquinho da minha inspiração,
a palheta pegada em minha mão,
e o baião tão saudoso sai perfeito,
que eu com ela pelejo e me ajeito,
e num instante fazer bela toada.
Sem a minha viola eu não sou nada,
mas sou tudo com ela no meu peito.
SS
É a viola que espanta as minhas dores,
é quem mata as mágoas que eu sinto,
com a minha viola em meu recinto
canto modas em músicas e tenores,
gosto muito de ouvir dois cantadores,
para o povo ficar mais satisfeito,
um poeta canhoto, outro direito,
e a cantiga bastante fermentada.
Sem a minha viola eu não sou nada,
mas sou tudo com ela no meu peito.
ML
Sem a minha viola eu vou sofrer,
mas com ela inda gozo em meu destino,
que ela segue o poeta LAURENTINO,
e acompanha o que eu posso dizer,
que me dá de comer e de beber,
e com ela eu não tenho preconceito,
ao contrário aumentou o meu conceito,
ela é minha eterna namorada.
Sem a minha viola eu não sou nada,
mas sou tudo com ela no meu peito.
O VELHINHO DO ROÇADO (Canção)
Moacir Laurentino
Está vendo aquele velhinho
que anda todo envergado,
foi de trilhar no caminho
que o levava ao roçado,
todo dia bem cedinho,
tomava seu cafezinho,
com pão, bolacha ou cuscuz
saía bem satisfeito,
cantando dentro do peito,
os benditos de JESUS.
Lá na Pedreira Lavrada,
quando amanhecia o dia,
batia logo a enxada
e para o roçado seguia,
saía cedo e voltava
e da luta não se enfadava,
pois era robusto e forte,
hoje soluça dizendo,
meus olhos já estão vendo
os negros grilhões da morte.
Até a enxada sente
suas lembranças passadas,
não sente assim como a gente,
mas com as mãos calejadas,
o caminho do roçado
está com mato tapado,
e o velhinho lembrando
das pedrinhas que pisava,
onde passava e cantava,
hoje recorda chorando.
Se senta lá no batente,
acende o cachimbo e fuma,
o peito velho não sente,
quase alegria nenhuma,
mas não esquece o roçado,
vendo a enxada de lado
a ferrugem dando nela,
e o velho sem alegria
lembra as centenas de dias,
que puxou no cabo dela.
Para acalentar seu choro,
tinha a velhinha coitada,
um velho chapéu de couro,
um cachimbo e a enxada,
e o cachorrinho veludo,
que acompanhava em tudo,
com o tempo, está além,
hoje passadas não faz
que o dono não pode mais
e nem ele pode também.
Lá o cachorro morreu
e a velha morreu também,
daí tudo enegreceu,
fica o velho sem ninguém,
ninguém lhe dava comer
e ele sem poder fazer,
vendo a companheira morta,
levantou-se da esteira
e sentou-se a vez derradeira
lá no batente da porta.
Lá o cachimbo acendeu,
respirando bem baixinho,
abriu a boca e morreu,
virado para o cantinho,
a mão direita estirada,
para o cabo da enxada,
companheira do passado,
pela ferrugem comida,
e assim terminou a vida
do VELHINHO DO ROÇADO.
Hoje quem por perto passa
vê na beira da estrada,
do cachorrinho, a carcaça,
vê do velhinho, a enxada.
Vê solitária a palhoça
e vê o caminho da roça,
parecendo algum deserto,
escuro como carbono,
somente porque seu dono
nunca mais passou por perto.
VÊ SOLITÁRIA A PALHOÇA
E VÊ O CAMINHO DA ROÇA,
PARECENDO ALGUM DESERTO,
ESCURO COMO CARBONO,
SOMENTE PORQUE SEU DONO
NUNCA MAIS PASSOU POR PERTO.
QUE UM MANDATO É POUCO PRA VARRER 5 SÉCULOS DE LIXO ACUMULADO (Versos de Jatobá)
No embalo das privatizações,
o Fernando Henrique vendeu tudo,
transformou-se depois num surdo e mudo,
envolvido num jogo de milhões,
lamentável são nossas conclusões,
que o BRASIL não é nosso, é alugado,
e ao nascer já estava hipotecado,
e sua dívida só paga se morrer.
Que um mandato é pouco pra varrer
5 séculos de lixo acumulado.
Rui Barbosa escreveu um manifesto,
meu BRASIL vai ser triste o seu porvir,
brasileiro um dia vai sentir
a vergonha de ser um homem honesto,
ele hoje é real sob protesto,
o BRASIL de ladrões está inchado,
está LULA na vez pra ser cobrado,
pra pagar uma conta sem dever.
Um mandato é pouco pra varrer
5 séculos de lixo acumulado.
O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS
SS
Pra provar meu valor de cantador,
escalei as montanhas lá de Quito,
construí as pirâmides do Egito,
e ajudei a Nabucodonosor,
dos projetos, fui grande construtor,
e ensinei a poetas e jograis,
tou agora revendo meus anais,
o meu tempo de luta e muita glória,
sou melhor passageiro da história.
O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS.
ML
Fui na guerra do Afeganistão,
um país que os outros hoje invadem,
passei tempo à procura de Bin Laden,
de pegar eu não tive condição,
conquistei a patente da nação,
no Iraque tornei-me tão capaz,
botei chefe valente para trás,
certo dia eu mandei prender Saddam,
a acalmei tempestade do Irã.
O que é que me falta fazer mais.
ML
Muitos anos amei a Cláudia Raia,
que eu tive o amor, essa mercê,
fui galã conhecido na TV,
recebi elogio e pouca vaia,
já compus ao lado de Tim Maia,
que eu conheço as notas musicais,
mas agora já disse nos jornais
vou gravar um CD, tá tudo certo,
vou fazer parceria com ROBERTO.
O que é que me falta fazer mais.
ML
Eu preciso perder na concorrência,
José Serra me achou muito ruim,
hoje em dia inda tem raiva de mim,
diz até que eu tenho essa influência,
o Luiz eu botei na presidência,
botei ele nas páginas dos jornais,
dei apoio a Rodrigues de Moraes,
e veja bem o que foi que aconteceu,
dei a casa civil pra Zé Dirceu.
O que é que me falta fazer mais.
SS
O BRASIL já conhece quem sou eu,
porque minhas estradas são bem largas,
certa vez dominei Getúlio Vargas,
porque ele não me obedeceu,
até Collor do Paço já desceu,
porque eu não achei ser bom rapaz,
já tirei um Prudente de Moraes,
e dei o trono agora pra o Luiz
e foi a coisa melhor que eu já fiz.
O que é que me falta fazer mais.
ML
O Geraldo pediu, foi ajudado,
lá eu fui corajoso como Saulo,
na política mais forte de São Paulo,
procurou, eu já estava do seu lado,
fiz Maluf tornar-se derrotado,
Suplicy candidato lá pra trás,
a Ronaldo ajudei e dei cartaz,
e quando Cássio não for governador,
já tá certo, serei seu sucessor.
O que é que me falta fazer mais.
SS
Na política eu tenho o meu valor,
eu tirei o Maluf do poder,
ajudei a Seu Geraldo a vencer,
dele até eu também fui eleitor,
Suplicy é um grande Senador,
mas a ele sequer eu dei cartaz,
espalhei a notícia nos jornais,
telefone, computador e carta,
e dei o novo marido a Dona Marta.
O que é que me falta fazer mais.
ML
Sou herói onde tem competição,
no talento, na frase, dom e voz,
consegui ser herói entre os heróis,
na cantiga pesada do sertão,
consegui nessa minha profissão,
enfrentar uns 300 festivais,
suplantei cantador que tem cartaz,
e se tiver festival que me agüente,
não tem mais repentista em minha frente.
O que é que me falta fazer mais.
COQUEIRO DA BAHIA
SS
Ao povo da platéia,
vou dizer muito obrigado,
que esteve a nosso lado,
que ficou até agora,
mas acho que é hora,
de findar a cantoria,
COQUEIRO DA BAHIA,
quero ver meu bem agora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora.
ML
Já houve lutas pesadas
das nossas duas gargantas,
eu muito conheço DANTAS,
que aprecia a sonora,
seu gravador não decora,
porém grava a cantoria.
COQUEIRO DA BAHIA,
quero ver meu bem agora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora.
SS
Ao poeta JOSÉ DANTAS,
por hoje muito obrigado,
meu amigo do passado,
meu amigo de agora,
sua gente colabora,
e promove a POESIA.
COQUEIRO DA BAHIA,
quero ver meu bem agora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora.
ML
Nossa bela aclamação
ao presidente Zé Costa,
que a coisa que ele mais gosta
está acontecendo agora,
verso, repente e sonora,
baião forte e melodia.
COQUEIRO DA BAHIA,
quero ver meu bem agora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora.
SS
A todos muito obrigado,
amigos que eu falei,
e dos que não me lembrei,
mas ninguém me ignora,
tudo acontece na hora
ao sabor da cantoria.
COQUEIRO DA BAHIA,
quero ver meu bem agora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora.
ML
O amigo JATOBÁ,
homem que tanto preciso,
o que eu canto é de improviso,
ele diz o que decora,
nessa arte, colabora,
declamando poesia.
COQUEIRO DA BAHIA,
quero ver meu bem agora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora,
que ir mais eu vamos,
quer ir mais eu vambora.