O jumento xingou a égua
Dizendo quelera burra
Sapateando nos cascos
Ameaçou dar uma surra
Foi um escarcéu no prado
Entre um samba e um fado
Num tal de empurra-empurra.
Foi muito relincho e zurra
A égua ficou possessa
Descascando a ferradura
No jegue ela arremessa
Botou até mãe no meio
Escoiceou sem receio
Numa celeuma imersa.
O burro disse:- Ora essa!
Que mula mais invocada
Deve ser a alfafa dela
Como ela tá estragada
Mordeu, Xingou e bateu
Espalhou lama e fedeu
Entre briga e palhaçada,
A jega desembestada
Espumando igual sabão
Fez o maior estrupício
Chamou jegue de barrão
Falou ciscando no casco
Que do muar tinha asco
Num relincho de aversão.
Aquele burro pião
Num esforço cavalar
Querendo dar o seu troco
Ficou besta a relinchar
Dava coice à revelia
Na sua grama cuspia
Jogando estrume no ar.
Mas como qualquer muar
Tem mente muito pequena
Pastando no mesmo pasto
Muares dignos de pena
Dividem o mesmo capim
Justificando seu fim
Complementando a cena.
Um Judas e Madalena
Querendo aparecer,
Mas dizem a boca miúda
É teatro bem-querer
Ao provocarem horror
Escondem o próprio amor
Que escroques podem ter.