Dias das Mães. Dias de Comemorar.
(por Domingos Oliveira Medeiros)
O dia das mães, em geral, para aquelas que são “do lar”, começa cedo, pela manhã. Bem antes do sol raiar. E vai até à noitinha. Passando por toda a tarde. Sem tempo pra respirar. Se tem criança pequena. A luta é mais complicada. Bem cedo começa o chorinho. É hora da mamadeira. É hora da fralda mijada. Mas tem que esperar o arroto. Com três tapinhas nas costas. Sossega logo o garoto. Mas a nova fralda enxuta. Apresentou o dilema. Está suja e com cheirinho. Apareceu um problema. A fralda é trocada de novo. Depois é só enfiar. Na boca a sua chupeta. Deitar o bebê no berço. Seja ou não de proveta. E partir para a cozinha.
Botar a comida no fogo. Enquanto ferve o café. Acorda com beijo o marido. E o mais velho atrevido. Que não quer saber de escola. Começa a gritaria. Do marido malcriado. Que não quer saber de nada. Sai do banho irritado. Pergunta pelo café. E briga com a esposa. Que não sabe que hora é. Diz que está atrasado. Que tem pressa pro trabalho. Reclama do cheiro do alho. E sai de casa zangado.
O filho vai em seguida. Se arrastando de preguiça. Igual a uma tartaruga. Ou quem sabe lagartixa. Nem se quer lavou o rosto. Pra sua mãe um desgosto. Na sua cara uma ruga. E no cabelo alvoroço. E depois de alguns instantes. A mãe fica sozinha. Tira a mesa do café. E arruma cozinha.
O almoço está quase pronto. A turma começar a chegar. Ao meio dia em ponto. E tudo de novo acontece. A mesa é logo arrumada. Com prato, colher e panela. E tudo suja de novo. O avental fedendo a ovo. O marido tira a soneca. E o menino vai pro quarto. Fazer o dever de casa.
Enquanto a mamãe querida. Na cozinha permanece. Lavando prato e panela. Segue a rotina da vida. Mas sempre com um sorriso. Que se vê no rosto dela. E a cena se repete. Mais tarde, logo a noitinha. E lá se vai a mamãe. De novo para a cozinha. Pois hoje até foi moleza. Não se lavou roupa nenhuma. Amanhã a coisa aperta. E o serviço aumenta bastante. E bem cedo a mamãe desperta.
Não descansa um só instante. Dia de mãe é assim. Ainda que trabalhe fora. Não tem tempo pra si mesma. Vai chegando e indo embora. Aliás a mãe só descansa. Quando está anoitecendo. E se não tiver criança. Ou o marido querendo.
Já temos dias demais. Dia de todos os Santos. E até dia dos pais. Dias de desencantos. E de saudades também. Tem dia de Santo Antônio. O protetor da mulher. E dia de São Tomé. Dia de dizer amém. Dia de Santa Rita. E dia de São José. Dia prá quem, acredita. No santo com muita fé.
Tem dia de Carnaval. Tem dia que a gente está bem. E outro que a gente vai mal. E tem dia de gritar olé. Torcendo para z seleção. Pra seleção que quiser. Já que o Brasil demonstrou. Não ser mais a primeira. A ganhar campeonatos. Como sempre ela ganhou. Sem precisar de parceiro. Tem dia de ir ao barbeiro. Tem dia de receber dinheiro. Tem dia de ir ao mercado. Com o salário congelado. E comprar pouca comida. E trazer muita besteira.
Tem dia de eleição. De escolher candidato. Pela cara do retrato. E depois se aborrecer. De tanta promessa enganosa. De escutar muita prosa. Para depois pagar o pato. Tem o dia da Bandeira. E também da Proclamação. O dia dos evangélicos. E de São Sebastião. Tem dia de fazer greve. Tem dia que chove bastante. E dia que ninguém se atreve. A sair por um instante. Atrás de uma condução.
Tem dia de ir ao cursinho. Tem dia de estudar com afinco. Nem que seja um pouquinho. Com a leitura eu não brinco. Para não fazer feio na hora. Na prova do vestibular.
É muito dia que tem. Mas feriado é muito pouco. Pra gente comemorar. Sem saber que dia é. Por isso grito e fico rouco. Junto as mãos e boto fé. Para que seja também criado. Um dia especial. Um dia bem dedicado. Um dia mais que normal. O Dia do Feriado. E que fique bem distante. Do dia do Juízo Final. Tem dia e tem semana. E tem quinzena também. Semana dos preços baixos. Liquidação no armazém. Semana até que a Mega. Acumulou novamente. Quinzena dos preços baixos. Liquidação de repente. Assim vão passando os dias.
E nossa mãe trabalhando. E nossa mãe nos amando. Por isso eu não concordo. Com um só dia pra ela. Dia das mães não tem dia. Pois todo dia é seu dia. E não tem data que pague. O tanto que ela já fez. E o tanto que ela faria. Por mais que a ela se afague. Se mais tempo ela tivesse. Mais trabalho enfrentaria. Pois lá dentro do seu peito. Há um desejo incontido. O que a mãe sempre quer. Além de muito respeito. É ficar feliz só em ver. O sucesso de seu rebento. A felicidade do filho querido. Enquanto vida viver.. Esse é o seu maior desejo. E isso se pode ver. No seu olhar refletido.