"Sonhei produzindo mel
num canteiro da USINA,
uma produção divina,
que engrandecia o CORDEL,
abrilhantando o painel,
tornando o SONHO dourado,
sentia realizado
com o povo festejando.
Tudo o quanto eu vi sonhando,
queria ver acordado."
Último verso do Cordel:
"Tudo o quanto eu vi sonhando, queria ver acordado*"
de José de Sousa Dantas, em 28/07/2004.
* Mote do poeta repentista Geraldo Amâncio.
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Sonhei produzindo mel
Com néctar de flor de cacto
Feito uma abelha - num pacto
Com minha fada no céu
Me acompanhava um Corcel
Um bicho meu de brinquedo
O meu herói de folguedo
Minha pipa de carretel
Guardava - à lança e broquel
A cinta de seu vestido.
Pairava tonto no ar
Num canteiro da Usina
Enviscado à sacarina
Que adoçava o seu olhar
Pus-me logo a mensurar
Sua cintura pequenina
A rogar por minha sina
Um perfeito entrelaçar:
O seu dedo anelar
Ao cordel da minha crina.
Laçados e bem alados
Eu e mais essa menina
Uma produção divina
(No Sertão ensolarado)
De frutos do semi-árido
Alcançamos fecundar.
Fora um gozo a revelar
Um milagre produzido
P’rum Sertão entristecido
Que não cansa de sonhar.
As plantas cortaram o fel
Em tanto Vate do chão
Saía verso das mãos
- Que engrandecia o Cordel -
De mambembe a menestrel
A mágoa, com o desalento
Com angústia e sofrimento
Eram num novo cinzel
Levados a ermo e ao léu,
Às raias do encantamento.
Poesia - de boca e papel
E a beleza dessas flores
Com colibris multicores
Flutuando em carrossel,
(Abrilhantando o painel
Das tintas da natureza)
Trouxe à seca e à rudeza
Um colorido cartel,
Fazendo delas quartel
Da maior delicadeza.
O Sertão de Virgolino
Conselheiro e Padim Ciço
Alcançara um novo viço
Em homem, mulher e menino.
Existia em cada sono
(Tornando o sonho dourado)
Mais langor acalentado
Era um repicar de sinos
Era um raiar matutino
Era um beijo apaixonado.
Nessa aura de primor
De louvor à fantasia
Toda a natureza cria
Mais orvalho em cada flor
Havia mais esplendor
No firmamento estrelado
Sentia realizado
(Da lavra do Criador)
O Éden superior
No Sertão ressuscitado.
De repente, vê - e quando
Nossas asas são desfeitas -
Essa fábula perfeita
Morrer. Desaparecendo
Para sempre deste mundo.
O rapaz, sem a menina
Essa alma citadina
(Com o povo festejando)
Rememora, inda sonhando
A fartura nordestina.
Andarilho - moribundo
Com neblina de poeira
Sinto vendedor na feira
Proclamar, num ai profundo
A desilusão com o mundo,
Na escassez de sua colheita.
Nessa vereda estreita
Mais queria ver brotando
Tudo o quanto eu vi sonhando
Em sacola e em cada cesta.
Menina, vem cá comigo!
Desistir não vale a pena
Em teus braços de açucena
Em teu ventre, teu umbigo
Araçá, quixaba e figo
Feijão mais milho do arado
Inhame, cará plantado
Banana, tomate e trigo
O que vi em sonho contigo
Queria ver acordado.
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Seguindo exemplo do poeta Daniel Fiúza Pequeno,
no Cordel "Glosando Hélio do Amaral",
publicado nesta Usina de Letras em 27/07/2004.