Eu nasci na Iputinga
Na cidade-litoral
Pesquei peixe de Coral
(Não em rio da Caatinga)
Não matei sede em moringa,
Andei muito de metrô
Brincava no elevador
Antes mesmo de nascer.
(Também me enobrece ser
Nordestino - Sim senhor.*)
Na cidade, tudo é fácil
Tem tudo que é condução
Tudo ao alcance da mão
Tanta moça pra... "psiu"
Vestida, conforme a moda
Faceira - com jeito roda
Os quadris, em despudor
E todo apreciador
Morde a língua sem querer:
Também me enobrece ser
Cabra macho - Sim senhor.
Por aqui, logo se entende
A lição com rapidez
Do que nosso povo fez
De austero. Aqui se aprende
A bravura de um Delmiro
Destemor de Conselheiro
Guararapes - seu valor.
Nosso Freire, professor
Não me deixa emudecer:
Também me enobrece ser
Nordestino - Sim senhor.
Se aqui não há os cabras
Do repente venenoso
Tem uns caboclo tinhoso
Em décima, oitava e quadra.
Ninguém viu uma só lavra
Do saudoso Carlos Pena
- De sua ditosa pena -
Sem argúcia e refulgor,
No seu auto de louvor
Ao Recife... até morrer.
Também me enobrece ser
Nordestino - Sim senhor.
Da Bahia Jorge Amado
Paraíba Suassuna
Gracil hano fez tribuna:
Alagoas consagrado.
De Rachel o Ceará
Maranhão teve Goulart.
Outros nomes, mais lavor.
Em Nordeste - há mais feitor,
De obra-prima a alvorecer.
Também me enobrece ser
Nordestino - Sim senhor.
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*Seguindo Mote do poeta José de Sousa Dantas,
no Cordel "ORGULHO DE SER NORDESTINO",
publicado em 30/07/2004.
