A Vida do Presidente
Cordelista e poetisa Hélvia Callou
e-mail: helviacallou@hotmail.com
Apresentação
Eu já falei de política
De vida sacerdotal
Da triste origem da crise
Desse país tropical
Agora neste repente
Eu falo de um presidente
Para torna-lo imortal.
Dedicatória
Dedicarei com prazer
Ao povo pernambucano
Por ter nascido ele ali
E ser meu conterrâneo
A galera do PT
E a todo aquele que crê
Em um país mais humano
Foi no sítio vargem grande
Hoje atual caetés
Cidade de garanhuns
Que essa história tem pé
De uma união sem brilho
Nascia o sétimo filho
Um nordestino de fé.
1945
Mês de outubro ele nasceu
O ano foi bom de inverno
E no roçado dos seus
No sertão de pernambuco
Onde água é que nem suco
Um filho é dádiva de Deus
A qualquer hora é bem vindo
Seja josé ou maria
Seja na casa de taipa
De palha ou de alvenaria
Tem sempre a redinha armada
Com duas varas espichadas
E nunca ela está vazia
Na casa de Dona Eurídice
Eu acho que era assim
Quando um filho se arrastava
O outro estava a “camim”
Não tinha chove não molha
Se carregava em tipóia
Aquele “pequenenin”
No sertão naquele tempo
A mulher era bem casada
Era fiel ao marido
Mesmo estando separada
Tantas léguas de distância
Ele vem e faz façanha
E a deixa embuchada
Ela espera nascer
E cria todos sozinha
Alimenta-os como pode
Com arroz, feijão, farinha
Foi assim com tanta gente
Com a mãe do presidente
Como sua mãe e a minha
São Paulo era o grande alvo
Dos nordestinos de então
A mão de obra barata
A cidade em construção
E quando a seca apertava
Famílias se retiravam
Como ave de arribação
E aquele nordestino
Que veio aqui visitar
Sua mulher e seus filhos
Não parou nem pra pensar
Deixa a mulher embuchada
E leva quem na enxada
Já dava pra trabalhar
Em 1952
Com sete anos de vida
Ele já conhece o peso
De uma infância sofrida
Criado sem ver o pai
Pra São Paulo agora vai
13 dias só na ida
Quatro anos ele viveu
Numa má experiência
De ter um pai dividido
Melhor será a ausência
Pois não sofria maltrato
Setinha pouco no prato
Da seca era a conseqüência
Já era 56
Com 11 anos de idade
Com sua mãe e irmãos
Rumam à outra cidade
E na capital paulista
Já em outra vida à vista
Pobre de dificuldade
Aos 12 anos vendia
Amendoim e cocada
Tapioca e engraxava
Brincava com a molecada
Aos 14 vem o lucro
Já se sente um metalúrgico
Com a carteira assinada
Trabalhando 12 horas
Diariamente, estudou
À noite, e no SENAI
Fez um curso e se formou
Qualquer diploma pra pobre
É sempre um papel nobre
Seja lá que curso for
Profissão de metalúrgico
Região do ABC
Dirigente sindical
Ele começa a crescer
Chega a fundar um partido
Que hoje é bem conhecido
Pela sigla do PT
Se lembram daquele 13
Dias em que viajou
De Garanhuns a São Paulo
Pois não é que combinou
Com o número do PT
Será que tem algo a ver
Esse número lhe marcou
Um partido de esquerda
Esquerda também na mão
Da qual perdera um dedo
Naquela ocasião
Assim que ele terminava
O curso, e que trabalhava
A noite num cochilão
Chega 10 de fevereiro
De 1980
É lançado o manifesto
Que dá origem e se inventa
Partido e sindicalismo
Unidos com idealismo
Entram na luta sangrenta
No combate a ditadura
Dos que oprimem a Nação
Ao lado dos oprimidos
Combatendo a opressão
Organizando o partido
Com quem ta comprometido
Com o futuro do povão
Nove anos de partido
E luta pelas diretas
A CUT já existindo
As portas estavam abertas
Agora o voto direto
Já tinha seu rumo certo
Traçavam-se novas metas
E o maior desafio
Surgia na sua frente
O partido decidiu
Lança-lo à presidente
Dessa imensa Nação
Mas um outro cidadão
Chegara à sua frente
Depois do segundo turno
Com um mínimo percentual
Quando chegou as denúncias
Esse cara se deu mal
Porque foi feito o impeachment
Deixando fora da pista
Da política eleitoral
Ele não se acomodou
Continuou a lutar
Como um bom nordestino
Nascido no meu lugar
Voltou à vida cigana
Juntou sua caravana
Pelo Brasil foi catar
Retalhos de sua vida
Nesse povo brasileiro
Conhecendo a cada um
Priorizando primeiro
Alimentação, moradia
Fazendo cidadania
Por esse Brasil inteiro
Chegando 94
Vai às urnas novamente
Certo da sua vitória
Para o novo presidente
Dessa vez FHC
Não deixou ele vencer
Para a desgraça da gente
Mas ele não desistiu
Cai, levanta, e novamente
Metendo a cara na luta
Junta os cacos e segue em frente
Esse sim é nordestino
Toma as rédeas do destino
Pelo destino da gente
Liderando os movimentos
Do partido do PT
Da CUT e dos metalúrgicos
E do MST
Enfrenta nova eleição
Com a mesma posição
Também contra FHC
Mais uma vez é traído
Pelo povo brasileiro
Que se dizia Lulista
Por esse pais inteiro
FHC reeleito
E mais um sonho desfeito
Que destino traiçoeiro
Mas o dito popular
Que se ouve dia a dia
“Depois de uma tempestade
Sempre a calmaria”
Mas a luta continua
Botava o bloco na rua
E o mundo percorria
Expondo seu pensamento
Compondo novo ideal
Fazendo planejamento
Com respeito. Ética e moral
Preparando a multidão
Para na próxima eleição
Ser Governo Federal
E foi o que ocorreu
Entre ele e José Serra
Agora em urna eletrônica
Voto o “cabra” não erra
Pra ter um Brasil decente
Só com Lula presidente
Esse era o grito de guerra
Com o discurso suave
O “Lulinha do amor”
Mostrando-se amadurecido
Só que alguém não gostou
Mas para a alegria da gente
Tornou-se o presidente
Será que o povo acertou?
O seu plano de governo
Que foi mostrando em campanha
Deve ser realizado
Sem precisar de barganha
De política eleitoreira
Quebre todas as barreiras
Mas não nos faça vergonha
Eu sei que o país é grande
Difícil de governar
Não há que saia na chuva
Pra nele não se molhar
Olhe seu cabra da peste
Tu és filho do Nordeste
Não pode nos enganar.
Campina Grande, 21/08/2004
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