Montes, Carioca de Nascimento, Caxiense de Coração,
Cidadão do Mundo
É com imensa satisfação
E muita maior alegria
A grata recordação
Das aulas de carpintaria
Da pequena serra tico-tico
Raspando pelo umbigo
Se não acertasse a pontaria
Era o corte na madeira
Contornando a figura
Que com tinta verdadeira
Deixava bem à altura
Dos bonecos cenográficos
E até cinematográficos
Aquelas nossas criaturas
Eram trabalhos manuais
Que haviam naquela oficina
Mas pelas aulas magistrais
Desabrochavam sinas
De marceneiros e escultores
Carpinteiros e entalhadores
E muito mais que se afina
José Montes, o professor
Daquelas aulas primeiras
Se estudava com amor
Numa escola pioneira
Que muitos não deixam mentir
A Escola Regional de Meriti
Foi a escola verdadeira
Um exemplo edificante
Da educação pública de qualidade
Onde todo aluno sai brilhante
Pois ensinar não era novidade
Primavam os mestres pela sapiência
Os das artes quanto os das ciências
Eram da maior capacidade
Mestre Montes fazia parte
Desse grupo de doutores
E era muito boa a sua parte
Entre os educadores
Pois até os mais antigos
Seus alunos e seu amigos
São testemunhas e cultores
Em mil novecentos e dezesseis
No subúrbio de Brás de Pina
Veio cumprir pois era sua vez
O desejo do Senhor, sua sina
De trazer para as crianças
Qualidade de vida, luz, esperança
Pois era fonte e também mina
Antes, porém, foi estudar
Para ter uma profissão
Na Escola Profissional Souza Aguiar
Estudou entalhação
Mas também tinha marcenaria
Mecãnica e carpintaria
Além de outras, modelação
Quando seu talento desabrochou
E Júlio Estaciole, o italiano
Afamado escultor o convidou
Para conhecer o estilo lusitano
Numa fabrica de moveis francesa
Como o estilo Luis XV da realeza
No floreio, floreado e floreando
Que a madeira aceita orientação
Seja no Barroco ou Rococó
Seguindo pelos veios a emoção
Do entalhador, firme e sem dó
Com o Chipandele e o Renascentista
Só se percebe a arte e o artista
Quando ele é o maior
E mestre Montes o era
Imenso na estatura
Quanto no sonho a quimera
Forte como as criaturas
Dotada da melhor alma
Que na imensidão da calma
Era o mel em forma de candura
O certificado de professor
De forma profícua e sem igual
Foi adquirido quando estudou
Na Escola Técnica Nacional
No Senai, foi se especializando
Outros cursos estudando
Sempre com aproveitamento total
No Liceu de Artes e Ofícios
Fundado pelo Imperador
Também teve os seus rabiscos
Como um bom entalhador
E as esculturas na madeira
Foram peças verdadeiras
De um grande escultor
Quando a fábrica fechou
Pelo final dos anos cincoenta
A Regional de Meriti ganhou
Quando ele se apresenta
Para Armanda Álvaro Alberto
Pois o convite estava aberto
E como discente se assenta
Hoje a Escola Dr. Álvaro Alberto
De Mate com Angú apelidada
Na educação foi modelo certo
Dando alimentação a petizada
Pela obra da grande educadora
Da semente plantada, imorredoura
Na bela escola, consagrada
Que teve Montes, grande figura
Como Barboza Leite, o pintor
Marta Rossi, uma pintura
Emilia Lazzaroni, uma flor
E tantos outros e outras
Educadores e educadoras
Que trabalhavam com amor
Depois de tanta estrada
Ensinando a tanta gente
Muito mais a garotada
As meninas e os carentes
Na Fundação Romão de Matos
Onde amor é como mato
De tanto e tão previdentes
O que mais lhe dava alegria
Foi ensinar trabalho manual
O Instituto Central do Povo, proveria
Como seu maior capital
Para muitos empregadores
Como a Fábrica Nacional de Motores
Pela graça Metodista de Ação Social
Na Pestalozzi especializou-se
Para ensinar crianças especiais
Nessa função aprofundou-se
Com alma, coração e tudo mais
Já com idade avançada
Por certo jamais alquebrada
O mestre, manteve seus ideais
Tivera quatro crianças
Onde flui o sangue seu
São quatro vezes esperança
São quatro sopro de Deus
Que leva de si o aço
Forjado na vida e o abraço
Do homem que os merece
Como antigos alunos saudosos
Dos ensinamentos seus
Da escola todos orgulhosos
Do quanto que se aprendeu
Eldemar, Tomé e Pedrinho
Mercedes, Djalma e Paulinho
Foram milhares como eu
Tivera também colaboradores
Nessa tarefa brilhante
Ou foram alunos ou professores
Que brilharam como diamantes
Assim como Irani Fonseca, escultora
Das artes plástica professora
Que muito ajudou o mestre gigante
Josué Cardoso, jornalista
De grande renome na cidade
Escreveu sem perder de vista
Esse vulto com propriedade
Na finada Revista de Cultura
Que o poder público sem postura
Fechou, deixando apenas saudade
Pelo imenso gesto generoso
De uma enorme alma colorida
De um sábio, denso, amoroso
Cidadão do mundo, da vida
Ficamos todos emocionados
E, por seu exemplo ofertado
Ficará sempre a cidade agradecida.