Esse causo que vou contar
Ocorreu a um quase irmão,
Vamos assim o chamar:
Raimundo Nonato Gusmão,
Cinqüenta anos bem vividos,
Um cabra macho nascido
No lindo Estado do Maranhão.
As férias gozava o Raimundo,
Quis ele dar um passeio,
Andar feito vagabundo
Sem botar o pé no freio.
Apontou o dedo no escuro,
Escolheu Porto Seguro
Pra passear em recreio.
Chegando lá na cidade
Recolheu-se à pousada,
Fez suas necessidades,
Tomou logo uma talagada,
Botou a roupa de banho,
Sem medo, pois era estranho,
Saiu em busca da amada.
Já na praia, sol a pino,
Dois capetas entornou,
Alegre como um menino,
No mar, feliz, se jogou.
As ondas o sacolejaram,
Seus óculos se espatifaram,
Nada mais ele enxergou.
Saiu da água salgada,
Deitou-se na areia quente,
Para dar uma descansada,
O sol queimando a mente.
Acordou já detardezinha,
Viu que óculos não tinha,
Quase nada via na frente.
À noite foi passear
Numa boate porreta,
Querendo se animar
Tomou logo um capeta.
Pra ficar endiabrado
Pediu um duplo diabo
E ficou ouvindo a retreta.
Dois metros não enxergava
Além do próprio nariz,
Percebeu que alguém o olhava,
Se abria e sorria feliz,
Aproximou-se da morena,
Disse, minha linda pequena,
Ès a garota que sempre quis.
Dizendo isto se abancou,
E começou a papear,
Linda quenga, ele pensou,
Aqui vou me lambuzar.
O nome dela era Margô,
"Luz negra, filme pornô"
Ficou o homem a pensar.
Tomaram outras bebidas,
Dançaram pelo salão,
Aos olhos das enxeridas
Que queriam o bonitão.
Todo mundo os olhava,
Na certa o invejava,
Pensava o Raimundão.
O efeito da cachaça
Misturada à miopia,
Fazia-no achar graça
E feliz ele sorria.
Começaram a se beijar,
Língua cá, lingua acolá,
Era tudo alegria.
Altas horas, combinaram,
Num motel, pra encerrar,
A noite que começaram
Com tanto amor pra dar.
Numa cama bem macia,
Ambiente de magia,
Ele pronto a se entregar.
Mais beijos e abraços,
Aumentando a tesão,
E no meio dos amassos,
No traseiro ele põe a mão.
Tira a roupa da marreca,
Quer pegar na perereca,
A perereca é um chibatão.
Nonato ficou arretado,
Botou o qualira pra dançar,
Voltou pra casa acanhado,
Pra ninguém ele quis contar.
Foi no buteco dos Albinos,
Comprou uma caixa de kolinos,
E sua vida agora é escovar.