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QUIÇÁ DEUS...

Quiçá Deus exista mesmo,
Só que nunca o demostrou
Porque o mundo avantesmo
Destoa do que criou
E do bem que imaginou
Que não é nem pode ser
A contradição de haver
Em permanente volteio
Bom e mau, lindo e feio,
A viver para morrer...

Quiçá Deus deixe correr
A vida tal qual um rio,
Ora em onda de varrer,
Ora em caudal macio,
Ciclópico rodopio
Da nascente até à foz
Pr acordar em todos nós
O cerne da inteligência
E enfim a existência
Plena se logre após...

Quiçá Deus por mão atroz
Esteja ainda a fazer
O mundo e como algoz
Que tortura por prazer
Não nos conceda entender
Qual o seu objectivo
E obra em definitivo,
Porque sabe de antemão
Que o ser humano é em vão
Um passageiro motivo...

Quiçá Deus não tenha activo
Nas contas de seu projecto
Para evitar que o passivo
Ultrapasse o dom correcto
Da existência em concreto
Que teimamos procurar
E que algures vai culminar
Na almejada perfeição
Que o humano sem noção
Mais e mais tenta alcançar...

Quiçá Deus queira mostrar
Que o bem e o mal são
Partes do mesmo condão
Que o saber tem de ligar
E por aí encontrar
A solução crucial
Pra que enfim a paz total
Se imponha permanecente
No seio de toda a gente
Sob a ordem natural...

Quiçá Deus em bem e mal
Trabalhe a vida indiferente
Ao egoísmo prememte
Que avassala o animal,
Cujo egoísmo é letal
Para o seu semelhante
E de montante a jusante
Além da foz quer viver
Recusando-se a ceder
Pra mais sismar ir avante...

Quiçá Deus determinante
Numa outra inteligência
Permita que a ciência
Mais ainda se agigante
Porque afinal dominante
É o almejo desmedido
Que ao corpo destemido
Exige o trono de Deus,
Crentes, descrentes, ateus,
E isso... Não tem sentido ...

Quiçá Deus sequer exista
Por há muito ter morrido...

António Torre da Guia

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Som = Gonzaga em "Deú Feliz Kortolló Tucá"

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