Seu Dotô Delegado,
Sei que cometi um pecado por se bebedô de cachaça,
Mas num sabia que ela trazia tanta desgraça.
Pois veja o sinhô:
Sai de casa com minha muié brigado
E doido e disisperado, comecei a mimbriagá
Tomei tanta pinga e fiquei quinem gambá.
No bar arranjei arruaça,
Briguei, quebrei copo e garrafa.
Alembro que puxei da faca, daí eu não alembro mais nada.
Mas eu não sô brabu dotô!
Agora veje o sinhô
Saí sangrando osotro quinem faço cum capado
Agora tô preso, culpado, pur te brigado e matado.
Eu não pudia pensá,
Que a cachaça ia me faze assassiná
Um amigo meu de prosa
E além de tudo Dotô, era cumpadre meu tumen.
Eu num posso sê ruim Dotô,
Sempre fui homi de bem
Eu agora nessa cadeia, sem sabe se vô saí...
Muié e os fio lá fora sem podê adquiri
O de bebê e o de cumê.
Sô pobre Dotô, mas sempre fui trabalhadô.
Hoje só faço chorá e rezá
Pu padinho Ciçô e Nosso Senhô
Pra mi dá a libertação.
Sumí cum meu vicio da cachaça,
E me dá um pouco de graça
Pra famía sustentá.
Seu Dotô, eu lhe juro,
Quando saí dessa cadeia
Eu vô sê um homi puro,
Vô sê inté coroinha e rezá a ladainha,
Vô muito trabaiá,
Pru módi da minha famía sustentá.