O orador pode ser
preparado por um ano,
mas o risco vai correr
de entrar por grande cano,
quando vai caçar a glória,
tal e qual o candidato
que um branco na memória
deixou-lhe sem cão no mato.
E no mato, sem cachorro,
na maior parte da vida
o homem pede socorro,
acordado, sem dormida.
Em vigília, sem dormir,
a gente tem consciência
das coisas, do ir e vir,
daquela efervescência
da multidão, da escada
do palanque, das bandeiras,
da fala ovacionada
e da vaia pra besteiras.
Para que a consciência
consiga focalizar
coisas da experiência
subjetiva a passar,
como o que nós sentimos,
ou pensamos, há um prazo
só, em que nos inibimos,
freiamos o que deu azo
a lembranças, referências,
imagens e sons guardados,
e outras reminiscências,
os fatos memorizados;
isso é involuntário,
o cérebro é que faz
no momento necessário,
pra gente ficar capaz
de dar conta do recado,
da tarefa a fazer,
sem ficar desconcentrado
e sem o foco perder.
Habituação é isso:
inibição temporária,
durante um compromisso,
em situação precária,
como a do candidato
que não pôde discursar,
pois ficou "habituado"
pra nada poder lembrar;
mesmo sem nada na mente,
tenso seu corpo ficou,
fisiologicamente
seu estado alterou.
O cérebro interrompe
as lembranças relevantes;
quando um navio rompe
as escotilhas, as montantes
águas são interrompidas
pra inibir a entrada
noutros quartos e saídas,
até total estancada.
Tudo que abaixa nível
interrompe o pensar:
adrenalina sofrível
e pressão a controlar,
pra desmaio evitar,
faz a gente esquecer
o que queria falar,
até estresse ceder.
O ter horror de falar
num palanque, ou salão,
alguém vai diagnosticar:
antes houve confusão
noutra apresentação;
numa outra tentativa
houve certa frustração
que vetou a retentiva.
Pra pessoas com tal medo,
a dura expectativa
causa tormento bem cedo
e tolhe a retentiva:
o temor então provoca
uma série de mudanças;
cérebro logo convoca
cortadores de lembranças;
disparo d"adrenalina,
cresce a pressão sanguínea,
musculatura afina,
a voz fica na alínea.
O cérebro, percebendo
tais mudanças radicais,
vai logo compreendendo
que funções fundamentais
devem ser restituídas,
e dá como secundárias,
que devem ser inibidas,
as tarefas ordinárias.
De modo mais abrangente,
podemos considerar:
"branco" é pra qualquer gente,
que está a "navegar".
Pensemos num estudante
e nas avaliações,
na condição abafante
pra obter aprovações.
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