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Cordel-->Trova do vento apodrecido -- 12/03/2007 - 12:54 (António Torre da Guia) |
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(1974 - quadra por quadra - 2007)
- NÃO E NÃO !...
Já sequer algo pergunto
ao vento que de lineu
mudou de rumo ao assunto
e depois apodreceu.
Os rios que fruí eu
banhando em paz os sentidos
negros, vestidos de breu,
correm hoje poluídos.
A pátria dos entendidos
que nas águas buscou rima
diz tudo aos tristes vencidos
que se arrastam lodo acima.
O trevo que se inclina
murchando cada vez mais
em pena só se confina
entre lamentos e ais.
Entre a turba os jograis,
trovadores da mesma fita,
cantam versos colossais
mas ninguém já acredita.
Os ombros, sob a desdita
dobrando, pesando infinda,
como ramos, vida aflita,
mais se dobraram ainda.
À pátria que era linda
o sonho cantado ao vento
traíu a herança provinda
dos heróis do pensamento.
À margem pelo contento
dos arautos predadores
está o povo em desalento
e o mar fechado aos pendores.
Navios? Vêem-se as dores
deitadas sobre os passeios
desafiando os odores
do lixo negro de anseios.
Há fome? E há tantos meios
pra debalá-la de vez,
mas os pançudos bem cheios
querem fome em português.
E o vento? Era uma vez
de silêncio forrado
porque mudo e em surdez
canta hoje o mesmo fado.
De novo? Eis o recado
para quem ao vento caça:
cedo ou tarde é caçado
pelo vento da desgraça.
E a noite? Se agora passa
alegre e muito feliz,
quem vê triste a figuraça
o vento tudo lhe diz.
A candeia? Bis a bis
apagou-se no desdém
e Diógenes infeliz
jamais encontrou alguém.
Mas neste dia, porém,
comprovada a servidão,
deveras há sempre alguém
que à luz diz: - Não e não!
António Torre da Guia
Porto - Portugal |
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