Os botos desses dois rios,
Eram em grande quantidade
Vê-los hoje é um desafio,
Mais de cinco é raridade.
Quando em criança eu os via
Subindo o rio ou descendo
Hoje lhes falta comida,
Estão desaparecendo,
Se a situação não muda
Acabam todos morrendo.
Houve um dia em que eu vi,
De um ponto especial
Alguns pares dessa espécie
De inteligente animal,
Que se exibiam vaidosos
Na ginástica fluvial,
Eram todos mui graciosos
Soltavam esguichos d’água
E faziam acrobacias,
De modo sensacional.
Parece que eles sabiam
Que eram vistos com atenção,
E as águas eles subiam
Fazendo evolução,
Brincavam e se divertiam
Naquelas águas tão turvas
Passavam muita alegria,
Saltavam fazendo curvas,
Teve um deles que sorria,
Pois alguém lhe jogou uvas.
Os animais naquele dia
Pediam por suas vidas,
Como viver com alegria
Em águas tão poluídas?
Araguaia, ó velho rio,
Hoje todo assoreado,
Assistiu a exibição
Bastante emocionado
Lembrou-se de uma canção
De suas glórias no passado.
Pobres botos, pobre rio
Vítimas dos predadores
Com as vidas por um fio
Querem escapar dos horrores.
Mas o homem ambicioso
Cheio de pose e vaidade,
Pensa apenas no dinheiro
E na vida da cidade,
Matam rios e ribeiros,
Sem remorso ou piedade
Pobres botos de um tempo,
Que a antiga lenda contava
Da mocinha em seu lamento
Que com o boto sonhava.
Eram amantes sedutores,
Mulher nenhuma escapava
Ficavam doidas de amores
Do amor que só eles davam,
Mas os maridos traídos,
Com as bôtas se vingavam.
E esta segunda parte
Me contô cumpade juão
Que lutô cum malazarte
Numa guerra no sertão.
Ele diz que os boto era
Uns guerreiro atrivido,
Pegavam moça solteira,
Ou roubava dos marido,
Virava as muié do avesso
Ou matava de ôi cumprido.
Na lenda que Juão contô
Os marido enciumado,
Viram as mulhé cuns botos,
Nas margens do rio deitado,
As mulhé davam gritinhos
Todas cheia de tesão,
E os marido chifrudos
Com raiva e decepção
Jurarum cabá cuns botos
De toda esta região.
Eles disviarum esgotos
Dos banheiro e das cunzinha
Pra perjudicá os botos
Pur causa das mariquinha
Cuja lingüiça de casa
Só cumiam cum farinha
Nun havia quem fizesse
O vicio as mulhé deixá
E mermo que elas quisesse
Num pudia abandoná.
Pois os boto feiticeiro
Ponharum nelas incanto
E nen são jorge guerreiro
Pudia vencê o quebranto.
Só restava aos chifrudo
Causá a poluição
E com esse absurdo
Veio a degradação,
Hoje o rio é uma cloaca
Pur causo da humilhação.
Pede socorro Araguaia!
Pur essa baita agressão,
Salve as margem e as praia
Carente de proteção.
Se os boto era galante
Ocê nun tem curpa não.
Aqui só tem curpa os homes
Cruel e sem coração
Agressor da natureza,
Marvado por vocação.
Essas margem que divia
Te servir de proteção
Está chei de farofeiro
Que aumenta a poluição,
Cum seus carro baruiento,
Cum bibida e confusão.
Peça socorro Araguaia,
Pras força da natureza
Salve tuas belas praia,
Que vença o amor e a beleza.