Cumpadi Pedrin Goltara,
e meu amigo do peito,
Tô lhe contando este causo
Deste mundo imperfeito.
Pra Terê e Silva Filho
Também mando um recado
Pra ajudá de direito
Quem foi mais perjudicado.
Mas Cuma eu ia dizeno,
Iscuita o que vô contá,
Essa istória assustadora
Difici de aquerdità,
O Paraguai é o lugá
Onde o fato assucedeu
Uma cobra discomuná,
Um pobre home cumeu.
Uma leitora educada
Moça qui num tem priguiça
Viu a istória pubricada
E me mandô a nutiça.
Ela achô muito ingraçado
O que leu na internet
De um marido coitado,
Suspeito de sê gilete.
O causo foi divurgado
Pela viúva da istória
Que chamô o delegado
E lhe contô de memória
O fato todo ocorrido
Da cobra grande atrivida
Que inguliu seu marido
Tirando do pobre a vida.
Foi durante um passeio
De canoa pelo rio
Que a tar cobra sem receio
Num respeitô nem seus fios.
O ato foi ali mesmo,
Diante deles e da muié,
Inguliu cum carça e tudo
E num sobrô nem um pé.
A tar cobra era gulosa
Cumeu e quiria mais
Deu uma zoiada melosa
Prum peão e um capataiz.
Mas esses cum um machado
Nun dexaru ela ir adiante
Pois ficariam estrunchado,
Como tromba de elefante.
O capataiz e o peão
Que num sitio trabaiva,
Partirum a cobra em porção
Pra vê si o corpo achava.
A viúva e os fio
que a tudo assistia,
virum os pedaços do morto
que lá da cobra saía.
A muié muito zelosa
Falô cum o delegado
Mi acuda, dotô! Mi acuda!
Num mi dexe nesse istado,
Eu cum essa dô aguda
E o sinhô aí folgado,
Inté parece que está
In uma cobra assentado.
O delegado raivoso
Cum tar insinuação,
Bateu na mesa furioso
E falô cum iscrivão,
Se essa tar dona Estela
Veio aqui pra ofendê,
Iscreva nesse B.O.
O que é que eu vô fazê.
Essa istória da serpente
Que ingole e nun aparece
É invenção de demente
Ela vai vê o que acontece.
Determino que investigue
Junto cum cabo Faria,
O que é que esta viúva
Na beira do rio fazia.
Onde é que está os pedaço
Do sujeito repartido?
Pra vim fazê estardalhaço
Gritando nos meus uvidos?
Sou um homem competente
Nunca fui um cabra mau,
Se o peão matô a cobra
Então que me mostre o pau.
Quero ver a cobra inteira
Do jeitim que ela contô
Pois essa istória parece
Cum mais um crime de amô.
Determino que esclareça
Como foi a confusão,
Pois num quero que acunteça
Um crime sem solução.
O iscrivão competente
Era um cara concursado,
Sabia tratá cum a gente
Na frente do delegado.
Mas por trais ele gostava
De alardear noticia,
O sigilo ele deixava
Na “caixinha” da puliça.
Foi por isso, meus cumpadi
Que eu contei o causo aqui
Pra vê se ocês divurgam
O causo da sucuri.
E pra nun ficá devendo
O favô de uma leitora
Ela foi designada
Nossa colaboradora.
(Hull de La Fuente)
2007-03-23
Agradeço a Eliana, de Juiz de Fora, por enviar-me a notícia. A história é realmente muito divertida.