Estou em compasso de espera. Amanhã cedo, com a Graça de Deus, meu amor estará chegando. Já posso antever o vulto querido desembarcando, abraçando-me, contando as novidades da viagem, povoando a minha solidão, enxotando a tristeza, o tédio, o desconforto terrível de quem fica sozinho. Sim, porque é diferente estar sozinho de estar mergulhado na solidão. Sózinho, muitas vezes, a gente se perde nos labirintos das recordações e, na verdade, não sente a solidão. Estar mergulhado na solidão, todavia, é coisa de outro naipe. Dá-se um encontro incrível com o vazio, as horas emperram, o relógio tem os ponteiros imantados e a vida fica borrada, inconsistente, inexplicável, indecifrável.
Bem, amanhã cedinho, antes de clarear o dia, vou ligeiro ao aeroporto. Sei que vou esperar um bocado, mas, não faz mal. Olharei para o horizonte demoradamente. Cada aeronave que se aproximar, imaginarei que é a dela. Quando for realmente, correrei para o portão de saída, abrirei os braços, fecharei os olhos e deixarei que o encanto inefável do amor faça o resto por mim.