É noite. Estou sem sono. Estou sozinha. Sinto falta de ver gente. Saio, solitária, em busca de vida. Passo pelas ruas da minha cidade.
Vejo jovens sorridentes. Vejo grupo de jovens que riem alto. São belos. Mas os que não são belos também sorriem. São jovens! E por que riem tanto? Olho ao redor, buscando uma resposta. Não encontro.
Uma música barulhenta toca aquilo que eu não queria ouvir. Se mistura com outras músicas não menos barulhentas que saem dos alto falantes dos carros em frente aos bares. A menina de corpo bonito rebola no meio da rua. E eu que não imaginava que aquela música fosse pra dançar!
Nos tamboretes em frente ao balcão, homens solitários observam o movimento. Examinam os rostos bonitos e os não bonitos também. Seguram entre os dedos o copo da bebida que lhes dão o ar de macho. Olhando meio de lado, tentam mostrar indiferença. Um sorriso sem expressão dá o toque final. É fatal! Conseguirão alguém pra essa noite!
Numa mesa no fundo do bar, vejo um corpo indefinido. Aperto os olhos pra tentar entender. Assusto-me. Não é um corpo. São dois! E a pobre lei da física tenta convencer aos estudantes que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Vou rasgar meu livro de física! Os namorados aprenderam o que é fusão. E que fusão!
Num poste logo adiante, vejo um ser meio encurvado. Fico olhando. Deve estar passando mal. Penso em chegar perto. Penso em ajudar. Mas, num repente imediato, um jato de massa sólida envolto por um líquido estranho sai da boca daquele lá. Éca! Que nojo! Ele estava vomitando.
Um pouco pra cá, vejo duas sombras agachadas perto de um muro. São meninos. Poderiam ser meus filhos. Acompanho o gesto de cada um. Levam aos lábios apertados um cigarro mais fino que o normal. De lá, sai uma fumaça mal cheirosa, estranha. Levantam-se. Olhos vermelhos... Os deles... Sinto pena da mãe deles. Olhos vermelhos...Os meus...Choro!
É noite! Ouço a música barulhenta. Vejo os jovens que sorriem. Vejo os homens em busca de fêmea. Vejo o casal que virou um só. Vejo o ser que vomita. Vejo os meninos que se drogam. Já vi demais, por hoje! Sinto falta da minha casa. É noite...Vou dormir!