Nesta madrugada perdi o sono novamente e me coloquei em frente ao material de pintura e fiz outro quadro. Havia algum tempo escolhido uma paisagem de uma moça deitada na rede com um livro no peito, e uma árvore linda, final de tarde, quase escurecendo. Na realidade eu queria apenas fazer um grafite, mas desta vez fui pintando e saiu, para minha surpresa novamente.
Eu falei com Deus, dizendo que me assusto de vez em quando. Ele me agraciou com tantos dons, e algumas vezes, um ímpeto de percorrê-los na mesma hora vem num sobressalto e me deixa em agitação. Então lhe peço serenidade e sabedoria para poder administrá-los e dividí-los com mais outras pessoas. Tenho certeza de que não me concedeu a graça de poder escrever, desenhar, dançar, cantar, falar outra língua, explorar artes manuais, traços , formas, sentir o elo que me liga ao mundo através de coisas simples, que aos olhos de outros poderiam passar desapercebidos. Eu não tinha ciência disso até um tempo atrás. Mas à medida que fui me abrindo com as pessoas, elas foram me dizendo e mostrando a Yoshie que sou, ou como me enxergavam. E isso tudo começou a ficar mais evidente quando fiz um pedido aos céus para ser mensagem de amor, pois sempre fui muito emotiva e chorona.
Confesso que o sofrimento abre muitas portas para a gente, quando se escolhe enfrentá-lo com brandura. Ele me abriu as portas para esse pedido, e esse pedido se transformou em mensagens de diversas formas. Eu consigo sentir muitas coisas no olhar das pessoas. Eu me sinto envolvida por tanta aura de amor, que me afogo, e tenho que ir ao silêncio do meu quarto e chorar, pois é uma coisa tão minha, tão aqui dentro.
E agora eu precisava dizer isso nessa carta.
Deve haver mais pessoas como eu, carecendo de dividir um sentimento, uma alegria, um sorriso, uma canção, um sonho, um lamento.
E por saber que tudo passa, não poderia deixar de vir aqui novamente para falar sobre mais um pedacinho de mim. Perdão se isso é egoísmo, acho que não.
Alguns de meus desenhos estão espalhados por aí, dei de coração. Assim como os meus poemas que estão navegando há alguns poucos anos. E quando lecionava, me lembro da minha tagarelice. Não queria ficar somente nas aulas, queria aprender mais com meus alunos e conversar com eles.