Sábado, fui a um delicioso jantar, aniversário de Elaine, uma adorável senhora que comemorava seus 78 aninhos.
Eu já a conhecia de outras festas.
Mas nesta, como era a sua festa, em sua casa, ela sentia-se à vontade.
Não detinha muita atenção dos familiares. Achei-a um pouco solitária, embora fosse seu aniversário.
Com o pretexto de perguntar-lhe sobre um antigo piano, no canto da sala, que me chamou a atenção pela conservação e brilho impecáveis, comecei a papear com a "jovem anciã".
Notei um brilho de alegria em seu olhar. Alguém havia se interessado pelo velho piano que tantas lembranças boas lhe trouxeram.
Pegando uma chavezinha dourada, abriu um pequeno cadeado e levantou a tampa do instrumento.
Nada me perguntou; apenas fez sinal com a mão para que me sentasse.
Fiquei meio tonta e inebriada, pois nunca me havia sentado a um piano tão importante... Senti que voltara no tempo, quando vi o rosto de Elaine enternecer-se ante o meu jeito "desajeitado" de dedilhar uma canção "Endless Love"; a primeira que aprendi nas aulas de teclado musical, que havia abandonado por preguiça. Mas algo me ficou...
Ela sentou-se ao meu lado e seguimos a música a "quatro mãos..."
Quando dei por mim, estavam todos os convidados à nossa volta, encantados.
Tocamos mais algumas músicas.
Acabei sendo, junto com a aniversariante, o centro de atenções de sua deliciosa festa.
Conversamos muito. Seu forte era "contar piadas".
Disse-me que recentemente havia visitado um país, onde leu em uma praça o seguinte aviso:
NÃO PISE NA GRAMA. SE NÃO SOUBER LER, PERGUNTE AO GUARDA.
Eu disse, então:
- Essa foi a melhor piada que eu já ouvi, por ser simples e ingênua.
Fiquei surpresa quando Elaine, com a cara mais natural do mundo, certificou-me:
- Mas isto não é piada. É verídico!
Rimos muito e ela resolveu contar-me uma outra, desse mesmo país, afirmando ser verdadeira, também: disse que iam de automóvel por uma estrada e passaram por uma grande curva. Até então, nada demais... Todos sabemos que,aqui no Brasil, de acordo com o código de trànsito, quando há adiante uma curva dessas, imediatamente vem o aviso: CUIDADO! CURVA PERIGOSA.
Mas ela falava com a mesma cara inocente de antes, que no referido país o aviso vinha depois da curva. Assim: VOCÊ ACABOU DE PASSAR POR UMA CURVA PERIGOSA.
Achei realmente muito estranho, mas, como combinava plenamente com o relato da grama e com algumas pequenas histórias que eu já sabia de outros países, acreditei nela.
Foi uma noite inesquecível. E a velhota maravilhosa tornou-se minha amiga.
Recebi, hoje, sem esperar, um telefonema dela. Não reconhecendo a voz, perguntei quem era. E do outro lado, a voz meiga respondeu:
- Sou eu, Milene... A "vovó"!
Fiquei tão contente...
E engrenamos num bate-papo, onde a minha Bia e a Mila (uma poodle de dez anos, cadelinha de minha nova "vó") eram as protagonistas.
Não é gostosa a vida, quando o destino coloca anjos diante de nossa trilha?
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