(Publicado no Jornal da Comunidade, Brasília, p. 2, de 30 de julho de 2000)
Leon Frejda Szklarowsky.:
Eu tenho medo de tudo. Não deveria. O mundo está cada vez melhor. Os transgênicos, os genomas, o património genético tornaram-se palavras comuns, na imprensa, na boca do povo, de todo mundo. Quem ainda não ouviu falar nessas mistificadas idéias? Em breve, não levará muito tempo, o homem será dono do universo, dos seus segredos. O milagre da descoberta total estará em suas mãos. Nada mais lhe será oculto. E tudo estará bem? Estará mesmo? Não me parece. Somos todos prisioneiros do progresso material que a todos encanta, mas também desencanta com a solidão e a prisão em que, paradoxalmente, vive o homem, apesar da Internet, dos boeings, dos airbus. E sabem porque? Distanciou-se e distancia-se cada vez mais do Espírito e do Criador. Pouco lhe importam o semelhante, a fome, o desemprego, as doenças dos outros, a corrupção desenfreada, a mentira, o oportunismo, a impunidade total." Não obstante, nada acontece por acaso! Não é por mero acaso que impérios, até há pouco, indestrutíveis, desmoronaram sem um tiro, uma gota de sangue sequer; outros, com muita dor e sangue, sem dúvida. E o homem está reaprendendo que o corpo e a matéria despidos da alma nada representam, porque vazios, como um rio seco, um oceano que já foi oceano, uma terra árida e deserta que já foi fértil. Por isso, não tenho mais medo de sair à rua.