A noite cobriu a cidade e nem o néctar da saliva dos seus lábios generosos... Perdoe-me por invadir assim seu santuário e como herege provocar escàndalo tal. Não intencionava, eu, importunar a singeleza de seu trono, onde estás
adornada. Certamente, não és estrela. És constelação inteira. E, assim, ofuscante, meu
firmamento ficou pleno de vazio.
Com medo, contei as voltas do tic-tac nervoso dos ponteiros das minhas horas que marcam
a hora em anos luz a espera da aurora, Ã espera que me olhasses. O seu silêncio atravanca
meu peito, sim. Nem um por cento do brilho de seus dentes alvos merecem meus olhos
turvos? Seus olhos feéricos nada precisam dizer.
Como vês, estou desarmado. Palavras fluem como um caudal espinhoso de rosas que
pecaram antes de maio. Sei que detrás do muro não sei o que há. Mas, perdoe-me outra vez,
detrás de seu olhar, uma chama chama. O pó que fica do que queima, teima em não dissipar
no vento. O relógio tic-tac e nada! No suspiro final do dia, prorrogo a esperança para terça.
Contemplo em silêncio, o seu silêncio.
Eis que chegou a noite e ela não durará mais que um lapso de um beijo roubado. Mesmo com o coração dilacerado em tiras, acenderei um sol só para você.