Primeiro ano de outro governo civil, enfim a esquerda chega ao poder. E é mais uma noite de luar no Brasil.
São vinte e quarenta e cinco, o ónibus lotado, a cidade crescida e o povo, além de mal acostumado, sofrido.
Daqui do último lugar...
Posso olhar e ver uma mulher, na flor da idade, sofrida, com um filho no colo, dois ao redor e um por nascer.
Sem pestanejar, dá pra ver, bem lá na frente, pelos cabelos brancos e a dificuldade em andar, senhora e senhores com mais de sessenta cansados da vida, gozando a viagem em pé, sem direito a querer.
Tem também uns estudantes, com os livros no colo e o sono nos olhos do vencer. E os muitos trabalhadores nessa viagem, que se encostam no silêncio das anteparas do carro pra adormecer, que viajam, viajam na viagem de suas cabeças pesadas, de seus corpos cansados, de seus ganhos sem ter.
Ninguém fala com os lados, todos seguem mudos.
Entram e saem sem nada dizer. Às vezes são como um bando de anónimos, que vivem só pra ver, Ã s vezes são como uns termómetros que erguem as obras, sem se quer receber, Ã s vezes são como os comuns, que seguem na vida sem nada entender.
Precisamos devolver a idéia a esse povo,
Precisamos fazê-los crer...
Eles precisam saber, que a consciência é capaz de fazer.
Só nos resta aprender.