Pintava febrilmente, enganando o cansaço com xícaras de café, goles de cachaça e pitadas num cigarro de cheiro forte e fumacento.
Seus quadros, representando cenas do cotidiano, impressionavam pelas cores vibrantes e o olhar tristonho dos personagens: rendeiras, jangadeiros,vaqueiros e feirantes.
Assim viveu torturado os seus derradeiros dias de vida, vendendo os quadros para sobreviver, atormentado pela mulher enlouquecida e pelos filhos desocupados, que sugavam tudo quanto recebia em pagamento pelos quadros que produzia.
Só parou de pintar quando as forças fugiram. Prostrou-se uns cinco dias antes de entrar em coma.Dizem alguns amigos compadecidos que foram visitá-lo, que os seus braços magros traçavam gestos de quem pintava um imenso painel, com os olhos fechados, balbuciando palavras ininteligíveis, indo ao encontro, talvez, dos anjos pintores da eternidade.