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Cronicas-->Negociações -- 23/10/1999 - 12:00 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há casas que são perseguidas pelas formigas. A
minha é uma delas. Não, não me refiro a esta casa
em que moro agora. Refiro-me a todas em que já
morei com Inajá. Curiosamente, em todas sempre
houve um número maior de formigas que nas casas
que frequento. São aquelas formigas miudinhas,
também chamadas de formigas de açúcar. Ao que me
consta, gostam de açúcar e de azeite.

Não há o que fazer. Nós chegamos e elas chegam
logo depois. Instalam-se e não há providência que
as faça desistir. Acabamos nos acostumando e
convivemos bem com elas. Mas isto foi resultado
de uma longa batalha diplomática sem falar em
algumas escaramuças, só para intimidar. As
conversações foram muito longas tendo-se nelas
empregado pelos menos uns seis milhões de "ora
veja" e outro tanto de "veja bem". "Com certeza"
não se usaram muitos pois fizemos um acordo
inicial no sentido de manter as conversações em
alto nível, o que foi efetivamente conseguido.
Entre uma conferência e outra elas carregavam
meio quilo de açúcar e nós matávamos duas ou três
dúzias delas. Não era por mal, simplesmente
acontecia. As vezes caminhando, as vezes sobre em
uma enxurrada na torneira da pia. Coisas da
guerra fria. Ao final fizemos um acordo que vem
sendo cumprido de parte a parte. Mais que isto,
um tratado de paz onde não houveram vencidos nem
vencedores. De nossa parte, paramos de caçá-las
sistematicamente. Da parte delas, há um controle
de natalidade de modo a tornar a convivência
possível sem que esbarremos nelas a todo
instante. Se não foi o melhor acordo, foi o
acordo possível para as circunstàncias. Como
prova de nossa liberalidade e ausência de
preconceito concedemos inclusive que algumas, não
muitas, se instalassem no açucareiro. Em troca a
paz, em especial para os bolos que Inajá sempre
prepara no Natal.

Há quem diga que isto é injusto para as formigas,
que estamos nos aproveitando de nossa
superioridade. Isto não é verdade, foi uma
negociação justa e honrosa para ambos os lados.
Tanto foi que nós inclusive reconhecemos a
existência de minorias mutantes de formigas
diabéticas que vem atacando a prateleira dos
adoçantes. Com elas acertamos que podem atacar
com o moderação os adoçantes de ciclamato,
respeitar os baseados em aspartame e em nenhuma
hipótese atacar os de sucralose.

Como podem ver o diálogo sempre conduz ao
entendimento, desde que se esteja realmente
disposto a entender as razões da outra parte.
Atualmente estou negociando com os mosquitos a
desativação do inseticida, desde que respeitem a
mim, Inajá, Juliana e Âmbar. As conversas vão
bem mas acho que devem demorar um pouco mais.
Ocorre que eles insistem em não aceitar a
cláusula sobre silêncio, não abdicam
dos "zzzzzzzzzzz" em nenhuma hipótese. Na
realidade eles se sentem ultrajados, acham que a
vida sem aquele maldito "zzzzzzzzzzzzz" não tem
sentido, que vão perder a identidade, que os
mosquitos da rua vão chamá-los de boiolas e mais
mil e tantos argumentos adicionais. Vamos ver no
que dá. Antigamente não havia diálogo, acendia-se
um boa noite ou, como se dizia, passava-se
o "flitch" (era assim mesmo?). Era uma
mortalidade que dava pena aos mosquitos e um
cheiro nada agradável para nós humanos. Sem
diálogo, ambos perdíamos. Com a evolução
tecnológica ficou mais simples, mas há a questão
dos custos e a inspiração de venenos e para eles
a mortandade desnecessária. Agora só depende
deles e estou certo que chegaremos a um acordo.

Muito mais difícil é a negociação com as formigas
da rua que insistem em destroçar a flores da
Inajá. Abusam de superioridade numérica.
Traiçoeiras, atacam enquanto dormimos. Pior é a
empáfia do comandante, achando-se dono do mundo.
Insiste que prefere a morte a um acordo, que não
pode ser desmoralizado, que tem uma carreira de
anos e anos a preservar. Ou seja, nenhum
argumento objetivo em prol dos que representa ou
diz representar. Só jogo de cena.
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