Media as palavras. Sabia que as coisas não estavam conforme seus planos. Era a hora do recolhimento, da posição de defesa, da observação, do cuidado constante, nunca exagerado.
Era ouvido num silêncio absoluto, fisionomias sisudas, olhares argutos e perquiridores.
Estava calmo, senhor das suas emoções, confiante na verdade irrefutável que provava a certeza da posição que assumira.
Antegozava o efeito fulminante que a sua fala teria.
Terminou sem pressa, sem enfatizar o arremate.
Pode-se dizer que foi técnico, profissional. Não permitiu que o prazer imenso que sentia trouxesse influência pessoal naquela questão.
Era flagrante o seu interesse, todos sabiam. Fora injustiçado, tivera seu prestígio esmagado,o seu orgulho quebrantado, tratado como se fosse o mais desprezível dos seres deste planeta.
Experimentou, naquela hora, o travo amaríssimo do ódio. Sentiu uma revolta incontida nque cegou momentàneamenteo seu raciocínio. Mas, recolheu-se. Adotou a postura de um monge budista, dedicando-se à meditação, permitindo que a paz, lentamente, regressasse à sua vida.
Então, aos poucos, foi readquirindo postura de equilíbrio, forrando os seus ouvidos contra ruídos grotescos, perturbações.
Ouviu, depois de um longo silêncio, a salva de palmas consagradora e o comentário final do representante da platéia: O senhor tinha razão, nós erramos.