Ao longe, qual um soldado vencido, caía o Sol diante da Noite, deixando passar, solenemente, sua Rainha. Selene, ou Lua, como muitos a conhecem, passava fria e altiva diante dos olhos de todos, parecendo tão distante que nunca ninguém conseguiria alcançá-la. Mal sabiam que toda essa frieza era decorrência da impossibilidade de realizar um grande amor, pois Hélios, mais conhecido como Sol, seu bem amado, acabara de decair no horizonte. Eles nunca se encontravam, mas os poucos instantes em que conseguiam vislumbrar-se já era suficiente para enrubescer a fria face da Lua. Era um amor impossível, tão platónico quanto o amor daquela jovem que, deitada sobre a relva, sonhava acordada, observando o ritmo intenso e incessante da Natureza.
Era uma jovem de traços comuns, em nada lembrando a deusa Selene, a não ser pela aura de mistério que a cercava, e pelo desejo incontido e platónico por alguém que não estava a seu alcance. Ou será que estava?
Havia momentos em que sentia aquele jovem mais próximo, Ã s vezes o percebia tão distante... Não sabia ao certo qual seria o futuro, mas tinha certeza de uma coisa, ao menos: queria aproveitar ao máximo o presente.
Sentia seu rosto arder, e seu peito palpitar com um desejo irrefreável, um carinho intenso e um respeito imenso por este homem tão parecido com Hélios: quente, distante, intocável, mas ao mesmo tempo tão próximo, tão ao alcance de suas mão delicadas.
Naquela noite sentira, de leve, o toque suave de suas mãos a aquecer-lhe o corpo, num gesto incontido e impensado da parte dele, e foi este toque que a levou tão perto das estrelas, tão próximo a Selene.
Fóra um contato breve, efêmero como a luz da própria Lua, mas aquecera seu corpo e seu espírito. Dera a impressão de proximidade, de reciprocidade. Houvera ainda um olhar, permeado de sedução, malícia, medo e ingenuidade, retribuído por ela com um olhar de encorajamento, malícia, desejo e timidez. Sim, pois de tão acostumada ao platonismo, quando encontrou resposta fez-se tímida.
Houvera ainda um outro toque, desta vez intencional, mas também ingênuo e malicioso, que fóra capaz de acordar seus sentidos mais adormecidos, retribuído por ela com um toque de sedução mais explícito.
Era um teste de resistência. Era uma relação platónica, pelo menos por enquanto. Onde levaria? Ela não sabia. Só tinha uma certeza: Iria sem pestanejar, e o levaria junto. Quem sabe não chegavam até Selene, e lhe mostravam a sua felicidade, conquistada graças à persistência...