Senhoras e Senhores!
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! E o espetáculo tem palhaços? Tem, sim senhor! E o palhaço, o que é? É ladrão de mulher! E o palhaço quem é? Bem, aí não me chamo José. E nem um Raimundo qualquer. Nem se o Carlos quiser. O poeta de Itabira. Que encontrou uma pedra no meio do caminho. Ele, que enxergava tão bem. Mas o pior de tudo não é o cego que não vê; é o cego que não quer ver. Mesmo que não tenha qualquer disfunção de visão. Crónica ou aguda. Curável ou incurável.
Anuncia-se o milagre do crescimento. Há mais de dez meses, prenuncia-se este milagre. Atire a primeira pedra aquele que não acredita em milagres. Milagres de cunho económico, evidentemente.
Porém, antes de atirar a pedra, deixe que eu saia da frente. Seguro morreu de velho. E assim já dizia o grande pagodoeiro: "deixe a vida me levar; vida, leva eu".
O presidente Lula ( e seus plantadores de notícias) insistem em anunciar: o Brasil teria saído da UTI. Já estaria no quarto; e já pode receber visita. Breve, acontecerá o milagre do crescimento. Não se sabe que remédio milagroso foi esse. Pois o desemprego continua grande. A renda - dos que ainda trabalham -, encolheu. Não há consumo. Sem consumo, não há venda; sem venda, não há produção; sem produção, não há emprego nem renda; sem emprego e renda, não há crescimento.
A menos que se esteja falando do crescimento das dívidas. Este ano, o governo irá gastar cerca de R$ 154 bilhões com o pagamento de juros da dívida do setor público. Isto significa o percentual de 42,5 % da receita prevista para 2003; estimada em pouco mais de R$ 360 milhões. Trocando em miúdos: R$ 137,1 bilhões referentes aos juros da dívida interna; e R$ 16,8 bilhões, equivalente aos juros da dívida externa. Mas não há motivos para tanta tristeza, conforme veremos em seguida.
O governo recomendou a seus assessores que usassem óculos cor-de-rosa. A idéia teria partido do deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), que teria comparado o presidente do Banco Central ao personagem Dr. Pangloss de Candide, da obra do francês Voltaire, tal o otimismo (infundado) com que o titular do Banco Central encara o comportamento de nossa economia.
O presidente do BC parece que aceitou a idéia. Apesar de não possuir colírio, ele resolveu deixar os óculos escuros de lado. E disse, com todas as letras, que o pagamento de juros da dívida pública aumentou 31,8% no ano passado, em relação a 2001". E arrematou - depois de colocar os óculos cor-de-rosa -, que, em compensação, este ano, com a redução da Selic, de 26,5% para os atuais 19%, os juros da dívida pública "estão aumentando, porém em um ritmo bem menor". Entendo que o ideal seria que os juros diminuíssem. Ainda que num ritmo bem menor.
Em todo o caso, sempre é bom ressaltar que no jardim das boas intenções do governo, o único espetáculo de crescimento, visível a olho nu, até para os altistas, estrábicos e míopes, são os enormes abacaxis, pepinos e batatas quentes que crescem numa proporção geométrica, adubados pelo agrotóxicos das metáforas do presidente, regados à alterações genéticas de sua política de marketing de resultados.
Crescimento que só será inibido, a partir do momento em que o presidente e seus assessores resolverem apelar para o bom senso e optar pela cirurgia de catarata, que toma conta de todo o governo.
A bem da verdade, com ou sem óculos, a população continua pisando em casca de banana, quando não choram por conta dos destemperos azedos e acebolados das decisões inusitadas deste governo: que prima pela improvisação, no palco das fantasias, onde expõe, com bom humor, seus números de ilusionismo.
O príncipe das Astúrias precisa parar de falar em crescimento. Caso contrário, e não vai demorar muito tempo, todos passaremos a identificá-lo como o príncipe das alturas.
E por falar em percentuais, estimativas e previsões, sempre é bom recordar a célebre frase atribuída ao antigo ministro da Educação, Calmon de Sá: "Estatística é como mulher de biquine; mostra quase tudo, mas esconde o essencial".
Presidente, tenha a santa paciência! Milagre tem limite! Será o Benedito?