Que Mario?
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Final de tarde em um bar. O pór-do-sol do Guaíba emoldurava a cena.
Amigo A: meu pai está nas últimas. É um vaivém do hospital pra casa e da casa para o hospital.
Amigo B: sei muito bem o que é isso, essa sina passei há três anos. Só que era minha mãe.
Amigo C: muito triste.
Amigo A: o velho está nas últimas, càncer de próstata. Metástase no estómago, fígado... um horror.
Amigo B: nossa!
Amigo C: muito triste.
Amigo A: papai está com 50kg. E era um homem forte, trabalhador de pegar no pesado. Musculatura de touro. Essa doença é foda cara!
Amigo B: só imagino.
Amigo C: muito triste.
Amigo A: dá dó de ver meu pai. Pele e osso. Olhos fundos e olhar triste. - e emborcou uma Bavária sem tirar a boca da latinha.
Amigo B: sinto muito velho...
Amigo C: muito triste.
Amigo A: é nessa hora que a gente vê quem são realmente os amigos. O pai naquele estado, a mãe num desespero incontido. Confesso eu já estou estressado.
Amigo B: tchê louco... não esmoreça. Tem que ter muita coragem.
Amigo C: muito triste.
Amigo A: sabe papai tinha um círculo de amigos muito grande, hoje só uma pessoa vai visitá-lo. Naquele estado cadavérico... fraco... mal consegue articular umas palavras... é muito triste.
Amigo C: muito triste. - consentindo com a cabeça.
Amigo B: garçom! Traga mais uma rodada. Esse pór-do-sol está me deixando triste. - fazendo um clique com os dedos polegar e o médio.
Amigo A: eu admiro o Mario. O único amigo do pai que é perseverante. Visita o velho todos os dias. O Mario é um amigão.
Amigo B: Que Mario?
Amigo C: bingo!!
Amigo A: aquele que te comeu atrás do armário. E está muito vivinho preparando uma picanha pra nós lá em casa. Vamos indo?
Amigo B: brincadeira!!
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