Eu era menino outra vez, era véspera de Natal, a família estava toda reunida na velha casa da Avenida do Imperador. Cadeiras na calçada, conversas alegres, cerveja americana, queijo do reino, tender, peru, bolo de frutas, chocolate e, porque não, a espera ansiosa de que Papai Noel não esquecesse os pedidos.
Aquele fora um ano de fartura. Papai se saíra bem e conseguira juntar um bom dinheiro para bancar o Papai Noel. Meu irmão e eu estávamos impacientes, querendo que chegasse a hora de dormir para receber a visita do bom velhinho.
Esperávamos a Missa do Galo. Pensando tanto nos presentes, na realidade, esquecíamos de que a festa era comemorativa do nascimento do Salvador. Mas, na igreja, com a bonita missa celebrada pelo Padre Pedro, os pensamentos espirituais voltavam a povoar nossas mentes. Prometíamos que não iríamos mais incorrer nas mesmas faltas, seríamos bonzinhos o ano inteiro, estudaríamos com afinco para compensar os esforços de nossos pais.
Vovó Ana ainda estava entre nós, Tia Iracema, Tio Nobre, Tia Adiléia, meu Deus, quanta gente que já se foi!
Depois da ceia, cada um para seu quarto, procurando segurar o sono para ver se nos deparávamos com Papai Noel...mas, o sono era mais forte, dormíamos quase que imediatamente.
No dia seguinte, o verdadeiro dia de Natal, ruídos de cornetas, brinquedos barulhentos enchiam de alacridade e de sonoridade a velha e saudosa Avenida do Imperador.
De repente, já não sou mais criança. A realidade me chama pelo nome de vovó Dadá...É o meu netinho sorridente, pedindo-me para ver as jangadinhas, o avião e o navio.