Essa náusea faz-me é arrotar bolhas de bilhar. Não tenho febre mas sinto calafrios e tremores, e o mundo passa-me à roda várias vezes. Ora se não se pode dar o nome de vertigem ao que sinto. Nem Dostoievsky descreveria isso muito bem.
Hoje é 10 de janeiro de 2003, 23 horas. Desligo a televisão, apago a luz da sala e sento-me no sofá com os olhos fechados. Há como um cinema dentro dos meus olhos. Saio pela janela desse apartamento como se meus olhos fossem alados.
Eu não faço versos para quem morre. Pois me encheu o saco pensar em métrica, em ritmo, em rimas. Pensar em formas. Ora fodam-se os gatos que os gatos sabem viver.
Credo em Cruz, Jesus amado, eu não sou soldado pra sofrer assim. O punhal não é mortal pois se torna necessário o golpe. Os hospitais são a ante-sala dos cemitérios vastos. Mas enquanto os crocodilos avançarem contra as lagunas e a esperança romper por detrás da aurora os mortos não dormirão sossegados.
Quando eu era um menino brincava feito um menino e viajava em meus sonhos através dos mapas dos livros de geografia. Ia de Toulouse a Barcelona num piscar de olhos. Colocava o polegar sobre o Cairo e a palma de minha mão girava de Trípoli a Bagdá. É um crime contra a humanidade o que homens loiros fazem no Oriente Médio.
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