Não se trata de trocadilho. Promessa já foi dívida. Hoje, ninguém sabe. Quem promete o faz para se tornar "livre". Dirão os moderninhos:
- Também, com as dificuldades da vida, não se pode ficar amarrado a compromissos, por mais sérios que sejam. Salvo se a promessa foi feita por escrito, assinada e passada em cartório.
Outrora, nos casamentos, os noivos juravam reciprocamente amor eterno e o oficiante (leia-se "padre"), ao final da cerimónia, por sua vez declarava como sentença: - "Até que a morte os separe".
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, concordamos. A separação de um casal, quando a convivência se torna um inferno, é melhor para os dois e para os filhos, se houver. Não é o ideal, é o menos ruim. Neste sentido, até que o divórcio, ou mesmo uma separação amigável, não é de se jogar fora, não.
Porém, depois da revolução dos anos 60, a sexualidade e a paixão têm falado mais alto que o amor, assim como a volubilidade e o gosto de mudança por mudança. Confusão entre homens e mulheres, pais e filhos, parentes e aderentes. Os padres já estão pra dizer ironicamente, ao final dos casórios, em nome de Deus: - "Sejam felizes, até que a primeira briga os separe."
De modo geral, há pessoas que nunca prometem para cumprir. Prometem, mas no íntimo estão a dizer: "Já me esqueci. O besta que espere." Em caso de força maior, claro que compromissos podem ser quebrados. Já citamos o caso do divórcio, como um dos mais evidentes contratos rompidos, na sociedade. Descendo a escala, a regra é a mesma. Os latinos tinham frases para essas circunstàncias: "pacta sunt servanda" desde que "rebus sic stantibus", ou seja, "o que foi pactuado deve ser observado, enquanto permaneçam inalteradas as condições."
Se a vida ficasse melhor sem ninguém a cumprir promessas e pactos, se não fosse necessário haver regras éticas no mundo, eu concordaria que tal "liberdade" pudesse transformar este "vale de lágrimas" num "vale do prazer". Mas a experiência nos diz o contrário. As sociedades atrasadas são mestras em comprar fiado e não pagar, em descumprir até seus mais leves compromissos tais como o de chegar na hora aprazada a uma reunião ou sair dela antes de terminar, sem explicação, etc. Não considerar o princípio da reciprocidade - tratar o próximo como quer que seja tratado - é puro cinismo.
Por outro lado, as nações que mais se desenvolveram são aquelas que adotam uma ética rígida, onde os governos, além de não serem corruptos, cumprem suas promessas eleitorais e os eleitores escolhem aqueles que têm nos seus programas as melhores opções. As pessoas, na sociedade civil, observam os seus estritos deveres e exigem os seus direitos, inclusive o dever de pontualidade ante o direito ao respeito e à confiança do outro.
Depois dessas considerações, como podemos melhor responder à questão proposta no início: Promessa é dívida? Ou, promessa é dúvida?
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*Francisco Miguel de Moura é escritor, membro da APL, do Conselho Estadual de Cultura e da UBE. Escritor, com 23 livros publicados.