Haveria de ser para mim aquele poema escrito em papel de pão exalando vida. Afinal era eu quem o alimentava. Ou não? Tinha gosto de fruta cheiro de vinho lembrando danças antigas. Conforme lia sorria. Lábios molhados cabelos ainda desgrenhados esquecimento do desemprego dos planos frustrados das tentativas desarrazoadas. Haveria de ser para mim. Como uma recompensa velada um prêmio guardado para ser dado no dia do aniversario. O de casamento talvez. O da primavera talvez. Ele sempre gostou de inventar datas para comemorações inusitadas. O que importava era manter o clima de festa como se a vida devesse ser celebrada. Dizia assim minha amada lindo riso não há mais bonito que o teu e a fortaleza que escondes no peito com que me alimentas a pão e a fantasias necessárias à vida por isso haverei de amar-te e seremos um eternamente embora sendo dois. Nada original bem verdade mas verdade pois no intimo somos tantos que até desconhecemos o outro que o outro percebe em nós mas que guardamos em nosso próprio santuário. De repente o silencio da casa a ganhar vozes retumbantes como se houvessem notas musicais e vivas em cada canto. E senti-me amada como se justificada como se merecido o amor represado o amor negado. Um banho e o bilhete de lado. Arranjo no cabelo com o bilhete em bom lugar visualizado. Coisas a fazer com o bilhete na bolsa. Telefonemas dados com o bilhete nas mãos. Quase mil tarefas resolvidas no acalentar de um único dia. Tanta coisa deixada para trás e agora levada a cabo. Por causa de um bilhete. Um amuleto na verdade. E à noite um jantar romàntico para dois. E ele procurando um pedaço de papel que havia esquecido ali. Sim o vi. Era para mim não era? Você o leu? Não estava terminado. Era para mim não era? Como poderia não ser? Era para mim. E o amor encheu a casa em beijos cálidos de recomeços promissores. Era pela autoconfiança que me amava.