Era um olhar sério, carregado de preocupações. As mãos seguravam firmes o saco pesado, róto e sujo que pendia à s suas costas.
Caminhava em marcha batida, com a segurança de quem sabe onde pisa e para onde vai.
Não se perturbava com os achincalhes da turba que se reunia ali naquele logradouro do centro da cidade:
- Louca! Amiga do Feijão sem Banha! Desvairada.
Afastou-se imperturbável para bem longe dali, para algum lugar desta cidade enorme e cheia de contrastes, até que os gritos foram ficando abafados e se perderam no rumor intenso do tráfego.
Enquanto se afastava e se perdia na multidão, fiquei pensando nos loucos que andam soltos por aí, xingando todos, indiferentes aos sofrimentos coletivos, aos dramas pungentes do cotidiano.
Aquela pobre mulher desmazelada, porém imperturbável, personifica no seu alheamento, a fuga dos excluídos, conservando, mesmo na insanidade, uma certa fidalguia.