Era uma sexta-feira 13. Para alguns, a data trás infortúnio, repúdio; para outros, reserva algo de especial. E realmente era um dia especial. Era o primeiro baile preparado por nós na academia Bio Ritmo, onde frequentava as aulas de dança e ginástica, para comemorar meu aniversário e de minha amiga, Miriam. Também aproveitaríamos para nos despedir, afinal o ano estava acabando e fazer uma confraternização também era um dos objetivos.
Pairava sobre meus pensamentos um receio de que o evento não acontecesse do jeito que gostaríamos. Sem divulgação, só no boca-a-boca, tinha minhas dúvidas que as pessoas pudessem comparecer, ainda mais sendo um sexta-feira (dia "morto" na academia). Além do mais, por uma outra apresentação não estive assídua na Bio Ritmo para ajudar a galera nos preparativos do baile.
Confesso que fiquei surpresa com a decoração preparada por minhas amigas. Não tinha pensando em tanta coisa. Meus mais íntimos sentimentos davam conta somente de um espaço em que pudéssemos transpor as vontades de bailar no imenso salão aos passos de nossos ritmos favoritos; apenas balões e tiras de papel crepom já eram o suficiente. Mas vi muito mais que isso: balões dourados, laçarotes, estrelas, papel... Senti-me a verdadeira estrela de Hollywood!!!
Ser estrela por uma noite é o sonho de qualquer pessoa. Mesmo que no seu mais restrito ambiente de trabalho, amigos, relacionamento. Roupa, maquiagem, perfume, cabelo. Tudo dentro de um ritual que já faz parte do universo feminino. Como existiam dúvidas no início da semana, não parti para este ritual. Apenas um calça mais transada sobre um body que havia comprado. A Miriam estava quase "tendo um filho" porque queria usar um macacão novo no dia do baile. Acho que ela teria ficado deprimida senão conseguisse comprar a bendita roupa. Ainda bem que ela o comprou!!!
A sala estava recheada de amigos. Nossos homens ainda são daqueles que nem sempre nos chamam pra dançar, mas preparavam-se para serem "arrancados" da barra e nos conduzir pelo salão.
Eu estava ansiosa. Ele estava lá. Encontrei com ele quando cheguei mais cedo na academia. Mas e ela? Será que iria? Não. Minha cabeça não permitia que tal situação ocorresse, afinal era meu aniversário! Já havia admitido que o tinha perdido! Porém, consideraria um afronte ela, mais uma vez, em meu território, principalmente naquela data.
Os momentos iam passando e nem sinal dela. Ufa! Deus ouviu minhas preces!!! Ele, estava um docinho, aliás sempre foi. Mas dançar com ele continua sendo uma química. Talvez eu tenha criado essa ilusão desde o inicio, mas parece que nossos pés voam livre sobre o salão. Minha confiança em seus braços é nítida. Nos momentos que estivemos bailando juntos pensei em muita coisa: no que havíamos passado, nas trocas de confidências, de carícias, em seus beijos envoltos de passos de tangos e boleros. Mas foram sonhos vividos que, provavelmente, não voltam mais.
Via-se que as pessoas se divertiam. Dançavam e enchiam o salão de verdade. Pouco espaço sobrava. Era um sucesso!!! Pouco fiquei parada. Dancei praticamente com todos os rapazes.
A diversão, o bolo e a despedida foram meras consequências. Tudo ocorreu na mais perfeita ordem. E eu, descrente de tudo no início, fiquei admirada por tudo que fizeram. Afinal, não é sempre que se pode reunir todo mundo para dançar. Bailes assim são eternos em nossas vidas. Este foi o primeiro de uma série de muitos em que sonho estar presente.
Meu par ideal, ficou só na dança. Nosso "algo a mais" foi além do destino. Ou pelo menos neste momento não irá se concretizar. Tivemos nosso tempo, nosso momento. Ainda continuo sonhando em encontrar meu verdadeiro par. O partner que vai me levar pelo salão no bolero, no tango, na gafieira, no samba-rock, no pagode, na salsa e também pelas ruas e avenidas da vida que temos que seguir. Se é pedir muito? Não sei, talvez seja. Mas enquanto vivemos de sonhos, vou navegando nas notas musicais e nos compassos da vida.