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Cronicas-->A revolução das galinhas -- 08/06/2004 - 21:32 (Thomaz Figueiredo Magalhães Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A propriedade era pequena, comprada para ser chácara de recreio, mas o dinheiro acabou, inclusive o desviado das campanhas, e as coisas mudaram. A família do deputado teve que mudar de Brasília para o recanto, à beira dum lago, lá nos cafundós. Um assentamento agrário, cujo filé havia sido re-redistribuído, pois essa crónica se passa daqui a dez anos quando a redistribuição de renda já não deu em nada. Então, o lote do deputado tinha duas casas, uma era de hóspedes, que precisou virar galinheiro, não desses fuleiros, mas de galinhas de primeira, que põem ovo todo dia e dormem de luz acesa para não parar de comer e botar. Trabalhadoras, coitadas.

A mulher do deputado não gostava de ser galinheira, se pudesse, se o trouxa tivesse subornado os caras certos, ela poderia continuar galinha, como nos tempos áureos antes da desrevolução. Bobagem, dizia ele, já disse mil vezes que não dava mais, o governo havia regulamentado a corrupção. Na verdade a esposa não tinha poder de abstração suficiente para entender a nova realidade, e ficava batendo na mesma tecla, queria ser galinha de novo.

A nova realidade era mesmo complicada para a maioria entender, mas para o novo governo isso podia continuar na mesma, pois sempre dera certo, o povão sem saber de nada. Aconteceu assim: os sem-terra, sem-teto e até os descamisados acabaram ficando amigos dos ex-ricos, ou novos pobres, como ficaram conhecidos. Eles, os sem-coisas, eram apenas alguns milhares restantes dos milhões que foram assentados, e foram convencidos pelos ex-ricos a vingar dos políticos que puseram a todos naquela situação. Aí com a vitória da desrevolução, botaram os políticos de assentados, os sem-coisas de políticos, e os ricos voltaram a ser ricos mesmo, retomando inclusive as velhas tradições da corrupção e privilégios.

Algumas categorias foram incluídas no pacotão dos políticos, entre elas as dos jornalistas, que não foram assentados mas deslocados sumariamente para cuidar do meio ambiente, tratar da fauna e da flora, lá na Amazónia, sem telefone nem computador. A produção de notícia ficou a cargo de um super-computador, que reeditava os melhores momentos do velho noticiário, e publicava randonicamente. Eu vou até botar essa crónica mais uns vinte anos pra frente, para não correr risco de estar vivo na época e ter que ficar sem ler jornais pela internet, lá no meio do mato e dos mosquitos. Então, considerem que essa estória foi psicografada por algum médium que entrou em contato comigo na eternidade, façam a gentileza.

Pois bem, voltando ao casal que cuidava da granja, os leitores repararam que os trabalhadores eram as galinhas, coitadas, sobrou para elas representarem os meios de produção. Culpa de um maldito livro que caiu nas mãos dos desrevolucionários, aquele da revolução dos bichos, do tal george orwell, que evoluiu liguisticamente para para jolge óvo, e que coincidiu com outra desrevolução, global, lá no mundo oriental, então pacificado, dando também num arranjo, uma nova ordem social naquele lado do planeta. Todo mundo virou japaárabechinês, povo que gosta muito de ovo, produto que então passou a principal comódite na pauta de exportação brasileira.

Aí começou tudo de novo, aquele papo de alcova, de revolução, nova ordem, e a esposa do deputado logo se engajou entre os subversivos que pregavam a monarquia. Pois ela almejava voltar, e melhor ainda, aos bons tempos, onde os ricos eram amigos do rei, então verdadeiro, as ricas podiam galinhar no bom sentido e eu que inventei essa coisa toda deixando para meus netos a possibilidade de ser jornalista, sem ter que ficar espantando mosquito lá na Amazónia.
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