O pássaro, o menino e o poeta do cotidiano
Autor: José Ronald Cavalcante Soares
Data: June 09 2004 @ 01:39 PM
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O pássaro desgarrado ensaiou um trinado diferente, respondendo ao assobio do garoto que tentava imita-lo. Estabeleceu-se uma rápida cumplicidade que durou até o anoitecer.
Quando o menino cansou da brincadeira, e já estava muito escuro, o pássaro ainda tentou provoca-lo.
Mas, o menino queria outra brincadeira e, também, jás estava com sono.
Eu, fingindo alheiamento, olhava curiosamente para aquele dueto tão intrigante.
No dia seguinte, naquele ponto estratégico, fiquei aguardando um novo encontro. O menino chegou e foi logo assobiando. Aí o pássaro veio saltitante, respondendo a todos os acordes.
Ninguém dos passanrtes teve a preocupação de parar um pouquinho e dar atenção a tão curiosa interpretação.
O episódio foi repetido por mais de uma semana. E eu deixava os meus afazeres e ficava ali magnetizado, contemplando me usufruindo do mavioso dueto.
Até que no derradeiro dia, parece que antecipando o que iria ocorrer depois, o pássaro aproximou-se tanto do garoto, que eles pareciam compor uma pequenina banda musical.
Na manhã seguinte, terminadas as férias, o menino viajou com os pais de volta ao torrão natal. No jipe, subindo a serra, distanciando-se do mar, assobiava os acordes que aprendera com o pássaro da cidade grande.
De tarde, sentindo a falta do companheiro de cantigas, o pássaro saltava de galho em galho e produizia sons belíssimos, parava como se quisesse escutar os assobios do menino, mas só tinha o silêncio como resposta.
Eu e ele, mergulhados na azáfama do cotidiano, sentíamos a falta do pequeno intérprete que fora embora.