O coração, de longe em longe, sente uma vontade muito grande de extravasar, de abrir as comportas da alma para que a represa não tenha a parede rompida e a mágoa acumulada dispare em enxurrada mortal...
A gente passa pelo centro da procela, recebe os golpes mais inimagináveis, as frustrações mais violentas, os dissabores mais intensos, as dores lancinantes de saudades, decepções, humilhações e, no desespêro das horas cinzas, nosos olhos ficam míopes e nem conseguem enxergar a beleza espalhada lá fora, nos jardins, nas flores, no céu de anil, no mar inquieto e verdemente belo, nas crianças que brincam e riem e cantam a vida nos seus encantamentos.
E a gente, preso na arapuca, fica até pensando que não existe mais alegria, que a vida é só aquele cinza e aquele estrago todo, sem remédio, sem fim, sem esperança.
Mas, dentro de nós, lá bem dentro, começa a surgir o antídoto para tal veneno. Pouco a pouco os olhos vão saindo da estreiteza do beco e a visão começa a se alargar e a vida, lentamente, vai tomando forma,o sangue que havia ficado paralisado, tem curso outra vez pelas nossas veias e alegria, a tão procurada alegria, como se fosse um sol de primavera, espanta para sempre todas as coisas ruins e nos convida a partricipar da festa inigualável do dia-a-dia.