O que importa o meu dentista nesse momento, ou, na verdade, em qualquer momento da minha vida? O que importa se eu me esqueci de passar em seu consultório para pegar uma maldita moldura de dentes para conseguir relaxar minha mordida e dormir bem a noite? O que importa se as 15:30 eu tinha que ir até lá para ele olhar a maldita moldura em minha maldita boca escancarada? Respondendo ás perguntas, não importa nada, absolutamente nada em toda a vida e em todos os momentos de nossa humanidade.
Enquanto meu dentista com cara escondida atrás de uma máscara de proteção me esperava, impaciente, sabendo que está assim perdendo alguns reais para sua pesca anual de lambaris no pesque-pague mais próximo, pessoas no Iraque morrem, crianças no Iraque morrem, soldados lutam, cansados eles morrem, tanques explodem, gritos, bombas, correria, civis explodem seus rostos em chamas, seus pés afundam em minas e explodem, o céu inflama, aviões atiram, pessoas morrem, civis morrem, soldados que há pouco sonhavam com as esposas perdem braços, pernas, cabeças, tanques atropelam crianças, tiros dilacera mulheres, prédios caindo, aviões caindo, um ditador caindo, enquanto isso George W. Bush come um novilho inteiro no seu rancho no Texas contando anedotas estúpidas para Rumisfeld que enfia a mão debaixo da saia de Condolezza Rice enquanto meu dentista com cara de merda me espera para por dentro da minha maldita boca uma estúpida moldura para eu dormir tranquilamente a noite.
Enquanto eu durmo feliz a noite os Hospitais do Iraque cheios. Morfina, mais morfina, muito mais morfina porque eles gritam, eles berram por suas mães, eles desmaiam de dor, eles matam, morrem, fogem, choram, a cidade em chamas, cabeças, corpos pela metade, pernas dilaceradas, vidas dilaceradas pela insanidade da guerra, essa guerra sem sentido, invisível, irreparável, a guerra do presidente da guerra, George W. Bush.
Enquanto esse miserável gritou guerra para proteger os seus contratos e os do papai com a família Bin Laden declarando guerra a um país que nunca matou sequer um americano que seja ele declarou guerra contra o mundo inteiro e espalhou ódio aos povos livres como o nosso.
Enquanto ele atrás dos holofotes manipulava pessoas ainda mais estúpidas que ele, jovens americanos inocentes eram mortos por jovens iraquianos inocentes, enquanto outros americanos inocentes matavam iraquianos inocentes sem saber exatamente porque, mas quando ali, no meio dessa loucura toda, há que se proteger e assim a guerra não têm fim até a ultima gota de sangue cair num chão sem dono e sem lei que é o chão de um país vencido.
Enquanto todos morrem de forma nada honrada numa guerra os contratos são acertados, o dinheiro jorra como o petróleo sem dono, os acertos são feitos e a industria bélica lucra e enchem seus bolsos Armani enquanto todos assistem do conforto do lar mais uma guerra cinematográfica pelo canal a cabo.
Foda-se meu dentista e minha moldura estúpida, eles ainda morrem enquanto escrevo e enquanto você lê essa merda.
