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Cronicas-->Becosa -- 01/08/2004 - 20:20 (Elpídio de Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Na luta entre internar-me em uma clínica especializada em freios para dependentes químicos, ou criar uma com expertise em dirigir os consumidores para que bebam mais vinhos tintos sul-africanos, opto por descrever como poderia ser a segunda.
A primeira dificuldade seria achar o melhor ponto da cidade. Teria que ser um lugar onde faça mais frio, ou seja, aqui, perto de onde moro. Vai fazer frio lá na China, só!... Depois, a burocracia para registro da clínica. Eu teria que contratar um maître-d"hotel, uma nutricionista especializada em queijos feitos com leite de cabras holandesas, mochas, malhadas de marrom e branco e de olhos azuis; importar estas cabras seria outra parada dura. Teria que contratar duas senhoras, dessas que fazem cursos de culinária pelo Brasil afora e os maridos ficam distribuindo seus telefones para encomendas diversas. Ou, então, contratar a mulher do Zé Maria, nosso especialista em reprodução de apostilas coloridas, que mostram noções sobre cordel e como o fogo, em rimas, pode ser alastrado, para o Curso de Brigadistas Contra Incêndios Florestais. Ela faz salgadinhos de toda espécie, ele procura quem os lhe encomende a massa, ou os centos de qualquer salgado.
A propósito, no Curso, eu conto para eles sobre o dia em que resolvi não tomar nem whisky, nem cachaça, nem vinho. Escolhi, então, a Becosa, também conhecida como "steinhegel", palavra que não encontro em meus dicionários, mas que qualquer bodegueiro sabe que é uma cachaça, de origem alemã, feita da cereja. Durante o jogo de porrinha, tomei umas cinco ou seis doses, apostando cerveja; raramente perco, pois me concentro, segundo a página vinte e um do Aqui e Agora, e sempre acerto meus palpites. Fui pra casa de táxi, como sempre, pois não ponho minha lata em exposição, de segunda às sextas-feiras, há mais de cinco anos. Cheguei e fui esquentar minha sopa de legumes; não podendo mastigar, por causa das implantações dos dentes que virão em setembro, tomo apenas da sopa. Acendi o fogão, esquentei, apaguei.
No outro dia, pela manhã, durante o café, a bruxinha do zero-dois, mea mulé, perguntou-me se eu me lembrava do que havia feito, quando cheguei, na noite anterior. Disse-lhe que sim, que esquentei minha sopa, tomei um café, escovei os dentes e a língua, troquei de roupa, fiz um xis e fui dormir ; ela gosta de tudo muito bem explicadinho. E ela me disse: "Não foi bem assim. Lá do quarto, eu escutei o tric-tric do acendedor do fogão várias vezes. E quando fui verificar o que estava acontecendo, você estava de braços cruzados em frente ao fogão; a trempe da sopa estava acesa, mas as outras estavam exalando gaz por toda a cozinha."
Eu conto isso pra eles para diferençar promessa de compromisso. Prometi não tomar nunca mais da Becosa e ela comprometeu-se comigo a verificar todas as noites se o fogão está em ordem. Porque promessa a gente faz pra gente mesmo, e compromisso é entre partes. Assim, eles ficam sabendo que um brigadista tem um compromisso muito sério, o de zelar para que não cause incêndios, a partir da sua própria casa.
Incêndios começam com preconceitos. Você sabe como é: pra gente ensinar, a gente tem que desaprender muita coisa. Se a taça já está cheia, como aprender alguma coisa nova? Eu, também, prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquel"opinião formada sobre tudo, como cantava Raul Seixas. Mostro pra eles os diversos patamares do preconceito, como o fogo se alastra, por condução, por convecção, por radiação, até a cabeça da gente pegar fogo. Depois disso, a gente tem que procurar ajuda de outros tipos de profissionais, esses que sabem apagar as distàncias decorrentes das brigas; são brigadistas mais refinados. Sabem chicotear o mato raso e prevenir as partes verdes que ainda compõem a floresta bonita que ainda há na cabeça da gente.
Depois de contratar quem sabe cozinhar bem, tenho que cuidar das instalações, dos aposentos, da mobília, do vasilhame. Presumindo que a clientela vem mesmo internar-se nessa minha clínica, tenho que planejar a recepção. Cada cliente é um caso especial. Cobrarei a primeira consulta e receitarei a duração da internação, conforme o estoque disponível. Médicos, exames laboratoriais, radiografias, tomografias, ceteí, piscinas de águas quente, morna e fria, duchas, saunas, tudo estará à disposição do cliente.
Mas o principal será o almoxarifado. Somente vinhos sul-africanos e os queijos de cabras holandesas. Nada de queijo suíço, do Serro, ou provolone, que acompanham mais é a cerveja. A clínica jamais encomendará vinhos chilenos, ou argentinos, nem franceses, nem italianos. A tecnologia da França, as parreiras da França, os técnicos da França, tudo já está na África do Sul, onde o Sol dispensa a aplicação de agrotóxicos.
Como dono do negócio, sei que o que engorda o boi é o olho do dono, e, por isso, terei que ser um interno permanente. Isso é que é gostar do que se está fazendo. Podem copiar a idéia.


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