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Cronicas-->Falando sobre saudade -- 09/08/2004 - 14:04 (Lara Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Li, de um prezado autor, sobre a saudade e que não deveríamos mata-la.
Pensando mais sobre o assunto, até vi em seu depoimento um fundo de razão, pois,
se matássemos a saudade, por certo estaríamos definhando o sentimento que devesse existir por trás dessa arbitrária falta de alguém, ou algo.
Mas, indo mais a fundo, deparei-me com um parecer insólito. Se a simples deficiência de saudade pudesse diagnosticar a consequente morte de um amor, que é, dos sentimentos o mais profundo, e faz sofrer a tanta gente, bastaria controlar essa ausência e estaríamos assim definindo um maior ou menor amor.
Parece um tanto objetivo demais. Se assim fosse, o amor ou o sentimento que cada um sentisse, estaria definido em razão da forma como esse alguém controlasse as suas ansiedades.
E, bem o sabemos que, quando se tem um sentimento análogo introjetado, não há meios, até então conhecidos, de se buscar um auto domínio para alívio dessa tensão, que muitas vezes é até suportável.
Se fosse possível matar a saudade ou até fazê-la menos intensa, com certeza muitos dos problemas da humanidade estariam resolvidos, uma vez que grande parte das depressões atuais se referem ao fatídico amor.
O fato em si é como matar a saudade? Se ela é a forma que o organismo encontra para aliviar a pressão interna, advinda do querer. Se preciso muito de alguém ou de algo que alguém possa fornecer-me, então, o fato de pensar nesta pessoa, por si só a saudade se instala. O simples pensar é uma forma de saudade.
E, se ao invés de matá-la, pudéssemos fazê-la canalizar-se como outro sentimento? Daí seria fácil não ter saudade, pois, ao mesmo tempo em que estivéssemos sentindo falta de outrem, com essa canalização, passaríamos a sentir algo indefinido momentaneamente. Até que possamos gerir convenientemente essa mudança e não transforma-la simplesmente em raiva, pois, assim, estaríamos sugerindo a Terceira Guerra Mundial, haja vista que o numero de saudosos neste mundo é muito grande.
Pensando assim, sou conivente a meu amigo que tão bem falou sobre a morte da saudade e as supostas crises que dela adviriam. Deixemos a saudade ser única e total, e mesmo com o coração em frangalhos por não ter ao meu lado este bem que tanto me faz falta, ainda prefiro senti-la e ela a mim. Pois, só assim tenho a certeza de algo tão devastador em meu peito, que não seja um enfarte a consumir-me, mas sim um amor que se fez grande, amparado na saudade.
(Lara Cardoso)



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