Sinto uma enorme necessidade de escrever, um tesão quase físico quando sai um verso bom, uma rima boa, quando que, quase sem querer sai algo harmónico. Mas nem sempre precisa ser belo, rimado ou poético, mas deve ser, de preferência bom. Pode-se inventar, esculhambar ou relembrar, na literatura nada é mentira, nem mesmo toda mentira que a História já nos contou. Na literatura vale pontos de vista, vale tudo, comer a mãe, matar o presidente, bater numa velha aleijada. Na literatura não existem limites, e isso à s vezes dá medo. A literatura é a arte mais mentirosa de todas, sabe porque? Porque vale, vale tudo. Mente-se com palavras, com (h)istórias, porque na literatura nada não se pode.
A arte em geral, talvez enciumada com essa história toda começou de um século para cá, não exatamente, a também poder tudo, a também lutar para desaprisionar seus conceitos, seus temas e a fechar os olhos para seu passado que de certa forma os condenava a imitação da natureza ou algo mais amplo que isso, mas nada, além disso. Os últimos prisioneiros de toda essa chatice foram os Impressionistas que pintavam as naturezas das cidadezinhas do sul da França.
Na literatura a natureza na maioria das vezes é o ser humano, e dele pode-se esperar tudo. Dele pode se inspirar para tudo, porque vindo dele hoje em dia nada mais é impossível, até as coisas impossíveis. Já é diferente de uma goiabeira ou o rio Sena, que são essencialmente coisas imutáveis senão somente pelos olhos de quem os cria.
Depois veio a gangue do Bateau-Lavoir e mandou todos tomar no cu, menos Cézanne. Depois os futuristas mandaram todos para pistas de corrida de carros numa dança fedendo a óleo e gasolina. Depois os dadaístas mandaram todos pra puta que o pariu. Depois os surrealistas mandaram todos dormir enquanto Lênin cheirava pó com Freud e Breton brigava, e por aí vai...
Em todos os lugares, em todos os momentos, em todos os grupos, em todos os cantos como pragas estavam os escritores fazendo da literatura a mais mortal das armas revolucionárias da existência. Eles estavam lá, escrevendo poesia, Cronicas, manifestos, criando para os artistas a cama para se deitarem e ficarem famosos. O que seria de Delacroix sem Baudelaire, de Cézanne sem Zola, de Picasso sem Apollinaire, de Dalí sem Lorca, da puta que o pariu sem um poeta por perto? O que é da sua vida, hein?