Essa tal coisa de intimidade é foda. As pessoas ficam folgadas e cheias de si, sem perceber que a pessoa a frente acredita piamente que o tal presunçoso é o maior e mais completo idiota que existe na face da Terra. Mas me diga, você acha que adianta alguma coisa? O babaca se sente, estufa o peito, gesticula, fala alto, manipula, conta causo sem perceber que todos a sua volta, sem exceção o olham com olho vesgo e cara de merda, fingindo prestar atenção numa pseudo-história que no fundo não vale nem a pena pelo tempo gasto sem a menor vontade que existe na capacidade de qualquer ser humano.
Essa tal coisa de intimidade é foda. Quando mal se conhece o babaca ele nem fala muito, diz sobre algo aqui, alguma merda ali e nada mais, meu Deus, como tudo é bom nesse momento, mas depois de algumas cervejas, tempo juntos, uma suposta amizade tudo muda, a pessoa xinga, faz brincadeiras idiotas, se sente o tal, se acha capacitado a opinar na sua vida, falar de sua nota, namorada ou sua camisa rasgada como se soubesse tudo de sua vida. É simplesmente deprimente.
E quando está numa roda de amigos então, parece que a coisa muda, bate nas costas quando fala, cospe no ar, quase escarra, sente-se o dono do mundo - nada mais que babaca - quando bebe xinga mãe, pai, namorada, pensa que sabe tudo - sabe nada - acredita que fala de tudo - no fundo a fala cala - pensa que fala de coisas profundas - só fala merda - tenta comentar sobre a bunda daquela cadela - nem assim é sincero - sobre arte, nem comento - confundi Arcimboldo com Archipenko - e nem avermelha a cara, fala de arquitetura com visão de revista Caras - e promete convite de formatura pra galera - seus pontos de vistas se resume a uma reta - e pensa que sempre esta certo - mas fala que quem pense assim é você, por ser mais seguro - recita poema sujo com cara lavada - e acha que esta mudando o mundo, não muda nem o vaso da sala, e rouba suas idéias - mesmo as mais vagas - dizendo que sofre com a miséria mas na verdade nem se abala, critica sua roupa furada e sua verruga peluda que emerge do
cotovelo - mas nem se lembra da própria cara porque tem medo do espelho - tenta falar manso com as gatas dizendo-se cantor de chuveiro - vangloria-se de gostar desde Sidnei Magal até Frank Sinatra - num agradar beirando desespero, e por aí continua dizendo-se verdadeiro, no fundo um otário marketeiro, usa tênis paraguaio gritando ser um pouco mais estrangeiro - bate no peito por ser mineiro, maconheiro e do dinheiro - e chora sempre escondido no banheiro essas lágrimas ácidas de quem nunca foi, é e absolutamente nunca será verdadeiro.