Pedi ao vovó António que me contasse uma história de seu tempo de criança. Ele, emocionado, escreveu esta:
FESTA DO DIVINO EM DELFINÓPOLIS
- A ÚLTIMA ALVORADA -
Em minha terra, todo ano, havia a grande festa do Divino Espírito Santo - o padroeiro, pois antes de sua emancipação política, Delfinópolis se chamava Divino Espírito Santo da Forquilha. Era o mês de junho, o mês mais frio. Dessa vez, os festeiros eram Latife e sua família.
E a festa prometia...
Às quatro horas, o morteiro do Quinca Moranga estourou no silêncio da madrugada.. Era o sinal. Daí a pouco ia começar a alvorada do primeiro dia da novena, com a Banda de Música do Zé Pires. Ah! Que beleza daqueles dobrados e que foguetório. A meninada pulava da cama e corria até alcançar a banda e gritava em coro, repetindo o que falava o fogueteiro:
"Viva o Divino! Viva!"
"Viva os festeiros! Viva!"
"Viva Delfinópolis! Viva!"
E a banda cortava a cidadezinha de canto a canto e os foguetes pipocavam. Era aquela animação!
Como de costume, após umas duas horas de alvorada, lá pelas seis horas, mais ou menos, os músicos se dirigiam para a casa dos festeiros para o café da manhã: uma mesa enorme, cheinha de quitandas, café com leite, com muita fartura e variedade. Ah! Aquelas roscas e aqueles pães de queijo!
Pois, naquele dia, terminada a alvorada, na praça da igreja, os músicos, ao redor de uma pequena fogueira, ou em pequenos grupos, tocavam algumas valsas ou conversavam animadamente e nada de irem para a casa dos festeiros...
Então, eu descalço, com muito frio e ainda com sono, pergunto ao Chichico do bombardino: "Uai, não vamos tomar café com bolo lá nos festeiros?"
E ele, mais o Mario Pires e o Rominho, deram uma risada e disseram:
"Desta vez, vocês sobraram; nós fomos lá antes da alvorada! (...)"