Usina de Letras

Era só uma menina
Tão jovem, tão pequenina
Que gostava de cantar,
Que gostava de brincar.

Ela saiu em boa hora
Para voltar sem demora.
Ia na casa duma vizinha
Brincar com uma amiguinha.

Mas ao dobrar a esquina
Aquela feliz menina
Não viu se aproximar
Um carro bem devagar.

Foi puxada na hora
Para dentro, por uma senhora.
Quando acordou, estava sozinha
Num quarto que nem luz tinha.

Homens amarraram a menina
E numa sala pequenina
Começaram a lhe violentar
Enquanto outros estavam a filmar.

Possuíram-na, embora
Implorasse a toda hora
Que só dez anos tinha
E não queria morrer sozinha.

Depois de semanas, a menina
Com um tiro de carabina
Deixou de respirar
Pois não tinha mais o que dar.

Encontraram-na bem fora
De onde sua família mora
Em velhos panos enroladinha
Deformada, a probrezinha.

Foi sepultada numa colina
Com roupas de bailarina,
Pois adorava dançar
E a fama sonhava em alcançar.

Porém, a morte os levou embora
E os pais, que nada os consola,
Não compreendem nadinha
Porque levaram sua filhinha.

A mãe, dona Severina,
Por causa de sua menina,
Não conseguiu se recuperar
E a morte veio lhe buscar.

O pai, homem de voz sonora,
Não suportou a dor, embora,
Fosse pastor duma igrejinha
Morreu dias depois, numa tardinha.