Às vésperas de mais um aniversário resolvi encarar o espelho de frente. Assim, bem de pertinho, com lente de aumento.
É fato: continuo bonita.
Os cabelos brancos? Escondo até de mim. Pura vaidade!
O corpo? Bem... É vítima de somatizações, de ansiedades mal resolvidas. Há anos sou sanfona.
Mas o rosto? Ah! Ele sim, continua bonito.
Algumas marcas e rugas se fazem presentes. As do canto dos olhos se formaram a cada sorriso. E sorri muito! As do meio vieram com as preocupações. As indagações e as dúvidas trouxeram as da testa. São todas fruto do meu viver. São minhas. Orgulho-me de cada uma.
Revirei armários e gavetas atrás de fotos antigas: a escola primária, as travessuras da infància, o álbum de casamento, o nascimento do filho. Sorriso jovial e inocente. As rugas ainda não estavam lá. Meu rosto tinha o frescor da juventude, mas faltava a história, que se construía.
Hoje, guardo no olhar a maturidade dos anos vívidos e das experiências acumuladas. Conquistas e perdas. Vindas e idas. Amores e desamores. A serenidade e a alegria da maternidade. Sou mais completa, mais mulher.
Constato que a vida não deixou somente rugas, mas conferiu ao meu olhar um certo mistério. Desvendado, contará meu viver. Desnudará minha alma.