Outra vez é domingo,talvez do pé do cachimbo, talvez o dia do lazer, talvez o dia em que a gente, por não ter compromissos profissionais, vai deixando que as saudades pontilhem a vida com as suas cores indefinidas e nostálgicas, com as lembranças dos tempos idos e vividos, com os vultos queridos que perpassaram pela nossa mente e, de repente, deixaram o ciclo da vida e ingressaram na área penumbrosa da morte e da partida sem retorno.
Hoje, como é costume ultimamente, debrucei-me sobre os procesos que se acumularam ao longo da semana. Pessoas insatisfeitas com os resultados dos seus pedidos na primeira instància e que se aferram a um fiapo de esperança, na obstinada tentativa de mudar o curso de seus destinos. E eu, no meio daquelas pretensões, tocado pelos sofrimentos que a lida da vida impõe aos assalariados.
O pensamento arisco e erradio, algumas vezes, alça vóos distantes, segue um curso retrospectivo, atinge os pàramos da infància, na cidade provinciana, ainda, tão pacata e ordeira, sem a violência dos tempos atuais.
Ontem, aflito, meu primogênito me liga para o celular e me conta que um ladrão entrou na sua casa de madrugada e roubou a bicicleta que eu dera de presente para meu neto ante-ontem. Imagino o desapontamento da criança, o trauma, o sentimento de perda.
Mas, penso no universitário assassinado por ter reagido a um assalto. Aí é muito pior. E a gente ergue as mãos para os céus por ainda estar vivo neste mundo louco, egoista, marginal, amedrontador.
O domingo ingressa na noite. O dia passou rápido e eu nem saí de casa, apenas o meu pensamento não ficou retido nem preso aos processos. Vez por outra, indócil, fugia daqui e procurava algum lugar do passado... um meio, talvez de sair deste quadro aflitivo de perversidades e cruentas realidades que tanto medo nos incute.
Que Deus nos guarde!