Quando Dorival Caymmi compós a canção "É doce morrer no mar...", certamente não sabia da fúria do maremoto. Essa e outras canções embalaram minha juventude, como a letra francesa "La mer qu on voit danser... le long des golfes clairs...". Também me lembro de um fim de tarde - inesquecível por mais de uma razão - em que ouvi uma simples sentença, "O mar é majestoso."
E a primeira vez que vi o mar. Assustei-me e logo em seguida, dele me enamorei. E é o que me traz mais saudades da minha infància e de parte da minha vida. O cheiro do mar, sua carícia, seu brilho sensual, sua beleza corporal, seu infinito mistério.
E, agora, o mar mostrou-se tão traiçoeiro. Nenhum aviso, nenhum sinal do seu terrível deslocamento. Nem os pássaros, que geralmente anunciam tempestades ainda por vir, nem os pássaros souberam adivinhar o que estava acontecendo nas entranhas do mar. Ou nos seus pés.
E aí o mundo virou. O sertão virou mar, o mar virou sertão.
Um pesadelo real. Digno de um mar. Uma bomba de água. Uma bomba atómica.