Num dado momento, ou você perde completamente as faculdades mentais por tanto lutar e nada conseguir perante essa sociedade putrefata que se apresenta sem vergonha, mas de máscaras, ou você desiste e senta em uma cadeira de palha no fundo dos quintais de sua covardia e apático dispara com um 38 pelos dedos trêmulos e imprecisos entre a têmpora e o ouvido, ou você enfrenta esses olhares medíocres que te olham de canto de olho tentando te dizer algo porque a própria boca do indivíduo cheia de dentes não consegue articular palavras, fazendo-as agonizar num beco escuro entre a mentalidade patética e os lábios titubeantes, ou então enfrenta a realidade com a mente delirante a base de coquetéis de bebidas compradas em velhas destilarias a preços irrisórios e de qualidade indispensavelmente duvidosa, ou baixa a cabeça pra toda situação e cola o queixo no peito com super bonder pra não olhar nunca mais pra cima, pra frente, pros lados, ou sei lá, se mete a escrever Cronicas como eu pra não perder a sanidade mental, pra não ter que enfrentar um 38 na mão trêmula, ou ter que fugir dos olhares de canto esféricos e assassinos, muito menos encher a cabeça de coquetéis destilados pelo próprio Diabo de gravata listrada, ou sei lá, invente uma saída aí que eu cansei...
Um dia, quando criança remelenta sentado no começo do mar aonde a onda vinha e se encostava ao meu pé e voltava pro seu mundo eu vi o sol nascer e acreditei ali, naquele momento, que iria mudar o mundo. Ainda não sabia do quê, de quem, como, por onde começar, porque acreditar tão piamente nessa completa idiotice infantil. Aí o tempo foi passando, os anos e as experiências modificando um pouco meus ideais para coisas mais concretas e reais, e um dia, não faz muito tempo revivi esses agradáveis minutos antes do sol sumir atrás do horizonte terrestre com toda sua força e magia e percebi que mesmo depois de anos, de estradas tortuosas, de caminhos escolhidos, de mortes de amigos, de mortes de amores, de contas, de IPTUS, de distància, de 1/3 da vida ter passado continuo com a mesma insana e desmiolada idéia de mudar o mundo. A única diferença de hoje para meus tenros 5 ou 6 anos de idade é que hoje sei mais ou menos contra quem, e até como começar, mas o mais importante e fundamental é que naquele momento, quase 20 anos depois do pór do sol na praia cheguei a conclusão sem duvida do motivo em PORQUE ACREDITAR nisso, e só por isso já valeu e está valendo a pena.
É difícil viver, é difícil entender Deus, é difícil pegar filas em supermercados lotados, é difícil ter paciência para ser porteiro em prédios de luxo, é difícil entender as leis da física quàntica em japonês, porra, mas foda-se as dificuldades aparentes, é de dificuldade que se faz a glória. Não digo essa glória vendida pela mídia hipócrita e manipuladora, digo a glória humana, o mais alto estágio que nós, máquinas perfeitas composta de carne, ossos, tripas, bilhões de neurónios e supostamente alma podemos chegar. É de algo que não se toca, somente se sente...
Mas o tempo é curto e 90 % das coisas da vida mundana tenta me tirar do caminho, a TV tenta desesperadamente desvirtuar a fé inabalável que tenho em que realmente eu posso. Tratando-me como um idiota, tentando manipular o que vejo, o que penso, o que sou, mas não, pelo menos não comigo, não deixo, sou forte, não sou marionete de auditório que espera pela morte com a barriga cheia de porcaria e mente vazia, cochilando entre sofá e a cama esperando o fim de minha vida. Não, por tudo digo não, trilho meu caminho em passos firmes mesmo rodeado constantemente de seres humanos que querem, tentam, insistem em me derrubar, mas sou inabalável, se não aos seus olhos cansados, sim aos meus que há 20 anos atrás já confiava na capacidade infinita de um sonho de esperança.