Não há situação mais embaraçosa para uma pessoa do que estar num elevador lotado quando alguém solta um traque. Não daqueles ruidosos que identificariam o autor da ventosidade anal, mas sim um daqueles sorrateiros e fétidos que na hora contaminam o ambiente. Aliás, ao que me consta, a literatura especializada não registra a ocorrência de puns sonoros dentro de elevadores.
Se entre os passageiros houver mulheres, então o constrangimento é quase mortífero para os homens. As mulheres, creio, passam pelo mesmo vexame diante dos homens. Tão logo a fedentina se espalha no ar, o silêncio oprime feito uma mão invisível que nos aperta o pescoço. Sobre as cabeças paira uma culpa generalizada, como se todos fossem responsáveis pelo malcheiroso atentado.
O tempo não passa, e o elevador, quer esteja descendo, quer subindo, parece não sair do lugar. O desejo de todos é um só ― sumir, desaparecer. O suor começa a surgir na testa e logo toma conta do rosto inteiro. Acho até que ninguém pisca. Não tenho certeza disso porque jamais um olha para o outro ao vivenciar essa traumática experiência.
Se houvesse mais solidariedade e franqueza entre os homens, o autor do constrangedor pum deveria incriminar-se publicamente. Dizer algo assim como "perdão, foi um ato involuntário". Ou melhor, "desculpem-me, não deu tempo de sair". Mas, principalmente na esfera da ventosidade anal, a humanidade é egoísta. O homem é até capaz de confessar um crime cometido dentro do elevador. Mas um público e inaudível traque, ele nunca admite; leva-o para o túmulo.
Não pretendo ficar só no campo do mero relato dos malefícios do pum escondido. Deixo aqui a idéia que tive para impedir o sofrimento que essa involuntária e danosa necessidade fisiológica causa à s pessoas. Sugiro que se promulgue uma lei que obrigue os síndicos de prédios a afixarem nos elevadores uma placa com o seguinte aviso: "Seja educado e não cause constrangimentos. Antes de entrar consulte seu intestino."
Sim, claro, como se trata de um remédio preventivo eficaz, já patenteei minha idéia. Pretendo vendê-la a qualquer vereador interessado no bem-estar dos cidadãos, principalmente dos ascensoristas, que passam os dias dentro de um elevador.